Samarone Lima, imagem da net.
O
CAFÉ DO DESTINO
para
Zeneuda
Nunca esquecerei o dia
em que minha avó fechou a porta da casa
para ir à missa.
Eu estava em seus braços, creio
e ela percebeu
a mancha de café
na ponta do vestido.
Minha avó abriu a porta
me deixou quieto num canto
e lavou a ponta do vestido
que voltou a ficar totalmente branco
(ou azul, não lembro).
Minha avó ligou o ferro
para passar na ponta do vestido
quando levou o choque
que lhe quebrou o braço.
Não teve missa, não teve mais nada.
Minha avó foi minha mãe
durante um ano.
Até que o café pingou
na ponta do seu vestido
na ponta do destino
e fui viver outra vida.
Samarone Lima, in “O Aquário Desenterrado”, páginas 40 e 41, edições Confraria do Vento,
Rio de Janeiro, 2013.
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