[Não te esqueças]
Não te esqueças – dizia-me a minha mãe –
de estender os teus poemas na varanda:
fechados,
ganham ferrugem e não soam muito bem aos ouvidos;
fechados,
tilintam conforme metais impuros das metalurgias
e
têm a cintilação embaciada de zebre das estrelas longínquas.
Fechadas,
as palavras amolecem e pegam-se umas nas outras,
tornam-se
difíceis de articular, enrolam-se na mecânica
das
línguas.
Fechadas,
em vez de leres liberdade lês obscuridade
e
em vez de leres amor lês bolor.
Eu
sei, mãe, eu sei.
As
palavras querem-se ao sol.
A
poesia quer-se ao vento.
Paulo Assim, in “Árvore Genealógica”, página 36, edição
Núcleo de Artes e Letras de Fafe / Labirinto, obra vencedora da primeira edição
do Prémio de Poesia Soledade Summavielle, instituído pelo Núcleo de Artes e
Letras de Fafe, Junho de 2014.
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