terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Lília Tavares

 



[Temos carinhos arrefecidos nas mãos]

Temos carinhos arrefecidos nas mãos.

Ficamos entorpecidos

quando damos pelos despojos

dos minutos atirados

como amarga casca de fruta.


O sol ultrapassa a janela,

mas insistimos em ver brumas.

Aves cantam nas árvores vizinhas,

contudo é com o mar que privamos.


Fez-se inverno no quarto,

vazio como cela fria e desflorada.


Das flores, que dizer antes que sequem?

As águas de amanhã já são

tardias para esta sede.

 

Lília Tavares, in “a timidez das árvores”, página 90, Colecção Mãos de Semear – Livros Lília Tavares, 1, edições Modocromia, Novembro de 2020.      


1 comentário:

Lília Tavares disse...

Grata, amigo António MR Martins.
Um beijinho.