sábado, 25 de setembro de 2021

Susana Nunes

 

Capa do livro "Versos Sem Tempo", de Susana Nunes


QUANDO A TUA PELE ME BEIJA
 
Fico de sede em concha
posição embrionária e mágica
num enrolar de mim em caracol
e de plenitude cheia…
 
Por força da força da Natureza
e quando a tua pele me beija
sinto o lume do teu aproximar quente
no meu que se espraia e se estende
no exalar perfumado da tua madrugada
 
Desenrolo-me então lentamente
e de repente, a humidade do suor, cheira
faz-se maior e de nós se abeira
 
A palma da tua mão contra a costa da minha
aflora rainha e desliza no escorregar doce
da veia saliente que se entrega inteira
 
Fico no latejar latente
no sangue ardente que agita e serpenteia
o corpo que vibra na mente que se despenteia
 
Quando a tua pele me beija
e eu sinto que só pode ser a tua
todo o amor em nós já se desnorteia
fico de convexo teu
depositado no côncavo meu
e a concha abre e fecha agora em prosa nua
 
Na rua, o Sol a raiar desponta
a atravessar os orifícios da madeira
da corrida e branca persiana
 
Mergulhamo-nos nos cristalinos lençóis da nossa cama
no fechar dos olhos nos brilhantes sais
porque ambos sabemos ser a forma
de hoje e sempre nos olharmos muito mais
 
Susana Nunes, in “Versos Sem Tempo”, páginas 133 e 134, edição de Autor, apoio Autor Publica, 2021.     

Sem comentários: