terça-feira, 18 de março de 2014

Sara Timóteo


 
O Viajante



Vem de longe e carrega consigo

as mercadorias e os seus bens.

Pelos trilhos celestiais traça as suas rotas,

pela face das pessoas

estabelece as suas raízes.

 

À noite, partilha o céu com a sua mulher

enquanto escuta a vida cá fora.

Distraído, engole a última refeição do dia

enquanto o sol se põe

e o horizonte se veste de negro.

Os mercadores algaraviam numa língua

que ele não compreende.

De madrugada, um aperto no coração,

adormece.

 

A flauta na manhã enevoada

e ele sai da tenda, parte sem mais,

deixa tudo,

nunca mais é visto.

 

Sabe-se que agora é feliz.

 

Sara Timóteo, in “Chama fria ou lucidez”, página 19, edições Papiro Editora, Agosto, 2011.

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