O Pássaro dos Segredos
O “25 de Abril” visto pelos olhos de uma
criança
(excerto)
“…Não entendia aquelas histórias de gente real,
onde não havia nem cavalos nem leões. Mas, apesar de pressentir uma sombra
negra nas histórias de meu pai, eu acabava por adormecer na mesma. Adormecia em
sonhos no lugar mais seguro do mundo, no entrelaçado dos seus braços, no
rochedo meigo do seu peito, com as mãos por dentro da sua camisola interior,
branca, sentindo-lhe o calor da pele. Eu dormia no centro do mundo à volta do
qual tudo girava em silêncio, porque o universo dormia quando eu dormia. Apenas
havia duas excepções em todo o cosmos: a água que corria na ribeira ao lado da
nossa casa e o Amílcar que trabalhava no forno noite dentro e nos levava o pão
quente à janela, antes do meu pai ir trabalhar de madrugada. Tudo o resto
dormia. Todas as estrelas. Até os planetas de berlinde emperravam na sua
roda-viva.”
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