Arnaldo Saldanha Abreu, imagem da net.
Transparências
Em
cima da mesa uma ampola de sangue.
A
criança fervilha de curiosidade para agarrá-la.
Uma
luz branca incide no tampo envernizado.
O
reflexo percorre a transparência do pai estilhaçando
as
delicadas extremidades de vidro.
O
homem verte vinho para um jarro e tinge de tintura a água.
A
mulher abre um frasco de amor e escurece de vermelho
fatias
de pão.
As
filhas têm tranças de cabelo azeitona e de trigo dourado.
À
mesa todos se riem por ele ter a boca pintada de ameixa.
Na
manhã seguinte quebrou a ampulheta e destruiu
o
mecanismo de conta-gotas.
O
reflexo imobilizou-se no rapaz que cresceu
e
que vê pelas mãos à transparência.
Arnaldo Saldanha Abreu, in “Transparências e outros anexos”, página 7, edição de
autor Euedito, 2014.
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