sábado, 16 de fevereiro de 2019

Lília Tavares


Lília Tavares, imagem da net.




Guardadora de ventos

Cheguei a casa quando anoitecia.
Ainda quente, o vento empurrava-me o vestido.
Por um instante senti-me ave
levada por brisas, plumas e enigmas.
A aragem entontecia-me de prazer.
Queria ficar nos braços daquele vento.
Imaginei que o anoitecer me pertencia.
De pé, senti o teu corpo.
O meu, aberto e solto, deixou-se ir.
Sou apenas uma guardadora de ventos.

Lília Tavares, in “Nomes da Noite”, página 50, Colecção “A Água e a Sede”, edições Modocromia, Janeiro, 2019.

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