terça-feira, 30 de julho de 2019

Tarso de Melo


Tarso de Melo, imagem da net.




Eles querem mais

516 anos. E os índios que estão nas terras que interessam aos
brancos são mortos aos montes: sem registro. 516 anos. E os
negros que enfrentam os limites definidos pelos brancos são
mortos: como culpados. 516 anos. E as mulheres que não acatam
(e mesmo quando acatam!) as ordens dos homens são mortas:
como suspeitas. 516 anos. E os pobres que não se dobram à
máquina que reproduz a riqueza dos ricos são mortos: como
inimigos. 516 anos. E os trabalhadores que querem respeito
aos direitos que ainda têm são mortos: como uma afronta. 516
anos. E os “diferentes” que não se escondem (e mesmo quando
se escondem!) são mortos: como um mal. 516 anos. E crianças
que brincam com os brinquedos alheios são mortas: como um
aviso de que 516 anos foram pouco. Eles querem mais.

Tarso de Melo, in “Íntimo Desabrigo”, página 70, edições Dobradura Editorial e Alpharrabio Edições,  São Paulo, 2017.

2 comentários:

eLeeMe disse...

Infelizmente, assim é.
Só porque permitimos o nosso sangue às bestas!

António MR Martins disse...

É mesmo isso.
Um grande abraço.