sexta-feira, 31 de julho de 2020

Rio companheiro


Rio Ceira, foto de Gonçalo Lobo Pinheiro.





Neste rio que nos acolhe
pelo olhar do desejo
no pulsar de quem escolhe
companheiro dum instante
amor que tanto desejo
num destino tão distante.

Neste rio correm memórias
rasas de alegria e dor
ante pedras com glórias
e peixes da substância
nas águas com seu fulgor
e gotas da abundância.

Vê-lo caminhar é sonho
jamais será pesadelo
síndrome que contraponho
apesar da sua altivez
sua corrente é novelo
rodeada de sensatez.

Em percursos triunfantes
se desenrola no leito
entre as margens-amantes
que irão dar a condição
de não encontrar defeito
pela sua estruturação.

Companheiro manifestou
seus ruídos de grandeza
onde tanto ser se refrescou
se o passo é dolente
nas redes da incerteza
feição de se sentir gente.

São as águas do meu país
envolvidas num rio só
num princípio duma raiz
que cresce e lá vai veloz
num enorme desafio
de correr pra sua foz.

Que este rio é um povo
dum Portugal que se sente
procura um sentir novo
nas réstias da liberdade
para voltar a ser gente
sentindo felicidade.

António MR Martins

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Edgardo Xavier


Edgardo Xavier, imagem na net.




656

Vivi em todos os caminhos e ardi sempre que
tive acesso ao fogo. Ser poeta é isso. Viver um
mundo ilimitado dentro de si mesmo e achar-se
nele, íntimo e inteiro, mesmo quando todas as
palavras que diga sejam incompreendidas. Ser
poeta é sentir a verdade que ainda se não vê ou
inventar a que, depois de si, andará no coração
do povo.

Edgardo Xavier, in “Não pises as formigas”, página 37, edições Modocromia, Fevereiro de 2020.

domingo, 26 de julho de 2020

Memórias inesquecíveis


Imagem na net.




O pensamento desalinha-se no infinito
ponto fulcral para abrangência
e a díspar sequência de imagens
salpica os meandros da memória.

Urge decantar a mente
num afinar de lembranças
como filtro para chá puro
num rastreio sublime
e na plena amplitude do seu paladar.

Assim me foco em ti.

António MR Martins

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Alberto Pereira







Alberto Pereira, imagem na net.




V

Não venhas agora,
as árvores tremem nos móveis
e a tempestade não adormeceu na cama.
Os lençóis assobiam o teu nome
e dizem os retratos,
os pássaros são barcos para a insónia.

Não venhas agora,
as paredes hospedaram o vento
e nos atris os versos dançam falésias.
Há livros com janelas doentes
e as histórias agasalham-se no nevoeiro.

Não venhas agora,
as paisagens passeiam naufrágios
e Agosto está numa cadeira de rodas.

Quando regressares,
os dias estarão sós.

Alberto Pereira, in “Viagem à Demência dos Pássaros” (CRÓNICAS DO NEVOEIRO), página 54, edições {glaciar}, 2017.      

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Coração entrelaçado


Cartaz da exposição "Entrelaçar corações" (em renda), 
na Praça do Município, em Ansião.




Como a raiz do medo nos agarra
o sentir e o palpitar
do coração
entrelaçando a pressão
com o desanuviar no tempo.

Como efervesce a razão
em batimentos de esperança
nos abraços distantes
e nos olhares precoces
que deambulam na praça do encanto.

Como a rigidez suplanta
o singelo estado do ser
e das coisas prenhes de serem vistas
e admiradas a preceito.

Mas o beijo já não se solta.

Ai que tempo este
onde a discórdia se antecipa
a todos os adequados condimentos
duma movimentação social.

Como é infame este bloqueio
que urge partir da nossa frente
como uma barreira inultrapassável.

Restam os sentires dos corações
e do nossos imos em segurança
entrelaçados entre si.

Mas tudo continua efémero
no tempo ou na ordem
dos nossos caminhos
e das nossas memórias breves
que nem tempo têm para se entrelaçar
com as dos nossos semelhantes.

António MR Martins



Referente à exposição "Entrelaçar Corações" (em renda),
na Praça do Município, em Ansião, de 19 de Julho (com inauguração oficial a 20 de Julho)
a 5 de Outubro de 2020.
Foto de António Martins.

terça-feira, 14 de julho de 2020

O ESTIO PROMETIDO NAS PALAVRAS


António Canteiro, imagem na net.




4.
Creio no pó do vidro
na transparência das rosas
no sol que obedece ao olhar deslumbrante
dos pássaros

Creio no poema
que penetra a crosta e toca dentro
o íntimo do aço
enlouquecido à beira das trevas

Creio na imagem da mão
nas entranhas Ardendo
no soro cintilante do sangue

Creio na tenacidade Vigilante
dos versos
que emprenham de gritos
e transformam o infinito dos sonhos
em eternidade

António Canteiro, in “A Casa do Ser” (Prémio Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage 2018), página 36, edições Gradiva, Setembro de 2019.    

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Novos tempos e muitas vacilações


Imagem na net.



Num arreganho e pertinácia
se agarram às rochas do poder
e fomentam suas lavas
a apoderarem-se dos lugares 
das lapas pioneiras
estabelecendo outras regras 
para o seu novo mundo.

As lapas desgastam-se
desintegrando-se 
sem volta a dar a esse desiderato
anómalo e leviano
daquele subreptício avanço 
infundado mas consequente.

A diáspora cinge-se àquela eloquência
de um trânsito bandido
transfigurador de todas as realidades.

Agora pretendia-se que o tempo
não passasse
mas essa é a única normalidade.

António MR Martins

Julho de 2020

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Drama encolhido


Imagem na net.




A turbulência fecunda a mente
num corrupio de ideias e pensamentos
que fervilham a cada instante.

A dor propaga-se 
a todos os outros aliados do corpo
e o insólito sucede-se
tornando-a vulgar e na net viral.

As mezinhas são recomendadas
a torto e a direito
entre limonadas e tomatadas
avinagradas ou doces
em amiúde caudal mensageiro.

Encolhem-se os dramas
diluindo-se a frescura do discernir
aguardando o porvir da segurança
que teima em não chegar.

As soluções são esbatidas
sem profícuos resultados
e com abundância de negatividades. 

Não há quem vacine
só há quem vaticine.

O ranger de dentes provoca sangrias
e a pasta dentífrica da suave frescura
não atenua tal agravo instalado.

Há que esperar a receita divina
ou do homem curandeiro
que tal como D. Sebastião
das brumas não consegue surgir.

António MR Martins 

Julho de 2020

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Invisíveis dores profundas


Imagem na net.



Espartilha-se o medo
em pedaços pontiagudos
que aguçam as picadas na pele.

Acerca-se um nervoso miudinho incompleto
que nos sacaneia os polos
emoldurando-os num transpirar frio
passageiro e assaz dormente.

Os estilhaços aprofundam a derme
até à ínfima fibra condutora
em circuitos paralelos e cruzados
contagiando todas as recônditas nebrites
do sistema.

Os dentes rangem
desprazeres filtrados 
acalentando o sabor da próxima
pasta dentífrica
que atenuará as dores subjacentes.

A mente atabalhoa-se 
de tanta ineficácia corrente
e não descortina qualquer fuga
para todos estes paradigmas.

António MR Martins

Junho de 2020

Lançamento da colectânea "Rio das Pérolas", na Casa de Vidro da Praça do Tap Seac, Porta R3, em Macau, a 24 de Junho de 2020.


A mesa
Da esquerda para a direita: António MR Martins, coordenador
da obra, também autor, Ana Paula Dias, prefaciadora do livro, 
que fez a apresentação e Gonçalo Lobo Pinheiro, pela editora 
Ipsis Verbis, também autor participante.

Ana Paula Dias faz a apresentação da obra.

António MR Martins fala sobre a obra e como tudo foi acontecendo.

Um aspecto da plateia.
Foto da Casa de Portugal em Macau.

Gonçalo Lobo Pinheiro dá por finda a sessão.

Montra de exemplares de "Rio das Pérolas".
Foto da Casa de Portugal em Macau.

Com o Cônsul Geral de Portugal em Macau e Hong Kong.
Foto da Casa de Portugal em Macau.