sexta-feira, 31 de julho de 2020

Rio companheiro


Rio Ceira, foto de Gonçalo Lobo Pinheiro.





Neste rio que nos acolhe
pelo olhar do desejo
no pulsar de quem escolhe
companheiro dum instante
amor que tanto desejo
num destino tão distante.

Neste rio correm memórias
rasas de alegria e dor
ante pedras com glórias
e peixes da substância
nas águas com seu fulgor
e gotas da abundância.

Vê-lo caminhar é sonho
jamais será pesadelo
síndrome que contraponho
apesar da sua altivez
sua corrente é novelo
rodeada de sensatez.

Em percursos triunfantes
se desenrola no leito
entre as margens-amantes
que irão dar a condição
de não encontrar defeito
pela sua estruturação.

Companheiro manifestou
seus ruídos de grandeza
onde tanto ser se refrescou
se o passo é dolente
nas redes da incerteza
feição de se sentir gente.

São as águas do meu país
envolvidas num rio só
num princípio duma raiz
que cresce e lá vai veloz
num enorme desafio
de correr pra sua foz.

Que este rio é um povo
dum Portugal que se sente
procura um sentir novo
nas réstias da liberdade
para voltar a ser gente
sentindo felicidade.

António MR Martins

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