segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Ana T. Freitas

Capa do livro "alfobres de rios", de Ana T. Freitas

 


a minha escada de menina
 
 
hoje subi ao céu nas asas da minha infância
subi, subi, subi, bem alto
lá longe, tão longe que nem eu sei
e naquela escada me pendurei
 
sim, essa que foi grande
saltitando, a desci e subi vezes sem conta
de sorriso nas mãos
e futuro nos olhos
 
sim, essa que agora revisitada diminuta é
mas ainda forte, robusta, pedra
assim tatuada se mantém bem fundo de mim
qual arte rupestre
 
sim, essa, firme, linear
que não A escada sem corrimão
de David Mourão-Ferreira
esta, nos traz cuidados
a outra, degraus límpidos, de sonhos feita
minha escora
 
hoje subi ao céu
na minha escada de menina
com brincos de cerejas
e fui feliz
 
 
Ana T. Freitas, in “alfobres de rios”, página 27, edições Modocromia, Maio de 2020.

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