Poeta é aquele que, ao ouvir o uivo do lobo, não segue o seu caminho
Uiva com ele...
O poeta entende as flores e seus vocábulos de pólen
O poeta inventou as ondas do mar porque não conseguia dormir
O poeta é o vento que retira as máscaras das montanhas para lhes beijar os lábios
Um poeta consegue vislumbrar o sexo dos cometas e a marturbação faiscante dos astros
Poeta é aquele que oferece mel aos mortos para que não chorem
Transforma em fogo as lápides do cemitério e os obituários no voo do morcego
Os poetas constroem catacumbas de palavras pela madrugada da cidade
Só os poetas conseguem furtar o canto do bicho-da-seda
E guardá-lo para alguém, sob a forma de uma rosa
O poeta brilha dentro dos olhos do gato pela noite
O poeta é da mesma cor da sinfonia da terra
Poeta são dois sonhos que se encontram num sonho maior
Segredos libertados como poalha fosforescente das crinas do cavalo
Um poeta é o filho pródigo das paisagens, a língua morna do tempo
Um poeta é a frágil porcelana de um sorriso.
Ser poeta é saber morrer quando é preciso.
Pedro Vieira Magalhães
in livro "Imaginários Corvos de Sangue", página 45, edições Edita-me, Porto, 2011.
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