Há um bicho ferido nos teus gestos
deslizante como um segredo na noite.
Há um silêncio de bronze que se
desfolha e se desdobra louco na tua
pele a erguer-se como uma febre.
E em mim fica suspensa a furiosa
e dorida lágrima e o riso é-me
um lago de raiva sinal trovejante
no mar interior da minha esperança.
As palavras voam-te e são coisas
de vidro estilhaçadas que ferem de
vez em quando e a lucidez
tremula-te nos olhos sérios e o teu
riso é uma perdida infância
um incêndio longínquo.
Resta então a paisagem triste
da minha presença alucinada
que sangra cansaços e uma flor
de mágoas rebenta-me nos lábios
solitários e frios lentamente
pela madrugada...
Airam Alice Pereira Santos
in livro "Stasis" (edição póstuma), nas páginas 71 e 72, edições Temas Originais, Coimbra, 2012.
2 comentários:
Magnífico!!!
Vou comprar!
Muitos abraços
Jorge
Tocou-me profundamente, este texto, porque o "vivi". Estranha e dolorosamente familiar, este dizer de vida... Mais que talento, sinto aqui Dor. Sinto.
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