segunda-feira, 12 de novembro de 2012

"Palavras na Vastidão de Ti, em Sílabas de Esperança"

 

(a todas as crianças que nasceram diferentes)


Trazes na bagagem um vidro de gotas de orvalho
E na ponta dos dedos um fio de sol para bordar.
...
Guardas os tesouros no esconderijo, que suspendes na memória
E inventas parcelas de sonho com que enfeitiças a alvorada.

Conheces como ninguém, esses tesouros que deambulam
Sobre o teu ser e te conquistam a palavra em gruta secreta
Do verso por nascer, gerado nas entranhas onde te acordas,
No amor concebido em útero de esperança, onde cresceu a poesia
Que há em ti! Onde dança a palavra como gaivota em voo suave,
Barco que se agita ao sabor das asas que tecem a vida, num grito
De liberdade e mel a escorrer no sorriso que te enfeita o rosto

E que fazer da palavra? Ela sabe que mesmo ao lado do sonho
Há musgo que cresce por entre os dedos desabitados de encanto.
Há insónia que se agiganta perante os factos que geram novidade.
Há espuma nas vozes que tolhem olhares de descoberta.

Entre ti e a palavra, há uma insónia que corre no verso
Que atravessa o vidro e transforma as gotas de orvalho
Em cristais de espanto e cheiro de inquietação.

A insónia dorme, na madrugada desperta,
em que os silêncios habitaram
Na razão cintilante onde guardaste o sonho e a melodia
Que juntamente se fizeram poema
E tu, a poesia.



Sonhas por dentro da vastidão de ti
Qual enigma delineado em espaço fugaz
Onde te descobres em futuros repousados.

Sabes a vento Norte quando sibila junto ao mar
E soletras praias desarrumadas que tardam no Verão
Onde te sentas soltando areia fina por entre os dedos.
O mar está lá. Deitado na toalha ausente de ti.

Passeia-se nos silêncios resguardados nos teus olhos
Como marinheiro, vela de esperança, viajante sem destino
Gaivota do pensamento. Acorde de madrugadas!
Cada onda que se aquieta no areal, leva um segredo
Enrolado na vastidão da espuma que gargalha
E, as espigas, são sóis adormecidos na esperança.

No teu olhar, há um ribeiro onde cresce a inquietação
De ser seara, ser voz, vento em turbilhão a espraiar-se
No leito de sonhos, repousando o instante de ser tempo,
De ser vulcão… donde sai a palavra, deslizando como lava
No teu peito feito verso, incendiado de amores-perfeitos
Plantados no poema, que cresce em ti
E que aos poucos aprendemos a ler, nas pétalas do silêncio
Que te persegue e que o vento solta, poisando-as na floresta
Que guardas no peito onde os rouxinóis desenham um novo voo!

As palavras vestem-se de ramos e flores,
Tocam-te a alma como beijos perfumados de luar
E todas as estrelas te abraçam,
Permitindo que a lua, em círculos de prata
Te vista o pensamento e te enfeite o corpo
Da poesia que te visita na seda que te embala as margens
Onde um grito de esperança eclode,
Atravessando a noite de luzeiros
Em que os barcos soletram horizontes bilrados de Futuro
E tu, pintas de azul e chama -retalhos de sol-
que ousam descobrir novas marés!

Dalila Moura Baião
 
- Poema concorrente ao XVII Concurso de Poesia da APPACDM de Setúbal - 2012 -

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