terça-feira, 25 de abril de 2017

Abraão Vicente


Abraão Vicente. Imagem da net.



versos impunes

Já não há contos
de embalar ou
fadas madrinhas
com quem possas
selar alianças e inventar
asas de licórnios
voadores onde
te possas esconder
da vida, do pesar
e das pérolas
ensanguentadas
que o amor
te reserva.

Poe-te a contar
com minúcia e fervor
os dias de alegria
e a incoerência que
ainda te restam, 
nobre criança.

Vem até mim, vem
quero-te embalar
na melodia do antes
do fim.

Andatas, valsas e 
mariachis loucos…

Onde estavam os corpos?
Em que areia movediça,
em que praia as
donzelas trincaram
laranjas ácidas de 
um pomar inaudito?

Sabre, safira,
pedra ume.
Que canção
saberá cantar
o Príncipe
perante o abismo
do teu sexo
descoberto?

Mar, rosas, espinhos
clichés fatais e a
morte da inocência
três tristes tigresas
Simone, Akhmátova
e Florbela
de mãos entrelaçadas
na espuma do vento
que as desfolhou
em versos impunes
pela morte.


Abraão Vicente, in “amor 100 medo, cartas improváveis & outras letras”, páginas 32 e 33, edição do Autor, Dezembro de 2014.

Sem comentários: