quinta-feira, 20 de abril de 2017

Sérgio Godinho


Sérgio Godinho. Imagem da net.



De fora para dentro dos olhos

De fora para dentro dos olhos
baixam os fantasmas
trazem sempre roupa nova
nunca a dor foi a mesma em pessoa nenhuma:
se morrermos sozinhos das dores colectivas
é o que diz o cantor
ninguém vem levantar-nos do chão.

A rampa enfeita a porta da garagem.
Paredes-meias com o passado
quem controla o sossego dos fantasmas?
Desfazem-se pelo pouco que há de pó
gastamo-nos na luta.

Quando se dá por ela é meia-noite
de dentro para fora dos olhos
grande saudade
é fogo eterno. 


Sérgio Godinho, in “O Sangue por Um Fio” (poemas), página 79, edições Assírio & Alvim, 2009.

Sem comentários: