sexta-feira, 3 de setembro de 2010

MADRUGADA

A madrugada chegou mais cedo
P’ra me contar muito em segredo
Que o Mar já não sabe cantar
E as ondas o não querem tocar.
Bateu-me à porta, esbaforida
Toda rasgada, noite em ferida
Temendo o Sol e a queimadura
Da sua raiva vestida amargura.

Madrugada de paixão
Guardas-me o perdão
Que tanto nego, noite fora
Como se ontem fosse agora
Madrugada de ilusão
Esconde-me na escuridão
Dos meus olhos, que me fitam
Dos meus medos, que me gritam
Arrasto gasto no chão
Este resto de perdão
Que piso e deixo ficar
A noite toda a chorar

A madrugada não quis entrar
Que tinha que ir, sem demorar
Deixou em lágrimas o seu recado
De dor e saudade de um passado
Em que rios corriam nos leitos
Rasgados bem fundo nos peitos
Forrados de paz, de ternura
Rocha de amor, pedra mais dura

Madrugada de tormento
Guardas-me o sofrimento
Que tanto nego, noite fora
Como se ontem fosse agora
Madrugada de lamento
Esconde-me por um momento
Dos meus olhos, que me fitam
Dos meus medos, que me gritam
Arrasto gasto no chão
Este resto de perdão
Que piso e deixo ficar
A noite toda a chorar

A madrugada, deixei-a ir
Que tinha mesmo que partir
Roubou-me as mágoas da vida
Levou-as em viagem só de ida
De recibo deixou o sorriso
No perdão que tanto preciso
E um recado vestido de calma
Escrito sem tinta, na minha alma

Madrugada de esperança
Guardas-me ainda criança
No meu escuro, noite fora
Como se ontem fosse agora
Madrugada carregada
Levas-me a mágoa, pesada
Dos meus olhos, que te fitam
Dos meus medos, que te gritam
Arrasto grata cada dia
Este resto de magia
Que sinto e deixo ficar
A noite toda a cantar

Goreti Ferreira

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