Não sei porquê
O dia pesa mais
Os fios de neve
São demais
A alma não está leve
Não sei porquê
O dia nasceu cinzento
Nunca pesaram os dias cinzentos
A alma está amarga
E o dia acerbado padece
Com a morrinha húmida
O carpido das folhas amareladas
Que anunciam a queda franca
De quem sabe que é para sempre
De quem sabe que a terra espera
Pelo decompor da vida
Não sei porquê
A arvore está feliz
Balança-se ao vento em adoração
Os ramos riem com os pássaros
Eu olho impávida
Não me choca aquele balançar
Como que adivinhando
O meu pensamento afoito
Uma folha cai ao chão
Ouvi o seu deslizar suave
No momento exacto em que tocou a terra
Parece que me disse
Para o ano voltarei em seiva viva
Que alimentará a primavera.
Não sei porquê
Os fios de neve deixaram de pesar.
Antónia Ruivo
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