Comparavam-na com Antígona:
- por ser rebelde e insubmissa –
tinha nas veias a poeira
por onde o sangue se tinha escoado.
Acreditava que os deuses
decidiam
e que os homens, os terrenos
se podiam saciar
como as hienas,
forjando caminhos
de putrefacção
entre os escombros do odor
inalado, sobre a incoerência da vida.
Desistente nunca fora!
A rebeldia acendia-lhe o olhar
forjando caminhos
– ainda que conducentes à morte –
A morte, será apenas o prémio:
da fúria dos deuses,
derrubando grutas de silêncio,
onde a fome penetra agonizante
e se agita perante a rebeldia
que a detém.
É o amor que morre
No suicídio da inabilidade perante a luta
E a razão.
É a vida que se consome num pregão
Gritado na fúria
Que se obstina perante o poder que se mascara
Na indigência da valentia acossada.
As hienas vigiam a gruta:
sabem que a rocha se transformará em ossada
e que em breve os cães madrugadores
irromperão famintos
espetando na carne sobrante,
os incisivos dentes de areia
– que farejaram o homem soterrado –
e não encontram nada:
A fome e o desespero,
enterraram-se na revolta,
insuflada contra o déspota Creonte.
- que alterando o nome –
não alterou o desfecho:
Antígona voou no dorso da coragem!
Tal como ela, a quem a esta, comparada,
soltou um raio de decisão
e se fez vento,
se fez olhar,
se fez silêncio,
na montanha de açucenas,
onde divide o pão
e sepulta as migalhas de ternura…
Não vão as hienas, trespassá-las!
Dalila Moura Baião
poema a ser publicado num próximo livro da autora
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