domingo, 26 de junho de 2011
Sou bem capaz de matar
Sou bem capaz de matar
Sou um serial killer banal
Cometo crimes de faca e alguidar
E ninguém me leva a mal
Já matei um presidente
Já matei um deputado
De um ainda tenho um dente
Do outro um tostão furado
Enforquei a minha sogra
Degolei um assalariado
Um país que sempre demora
E um padre remunerado
Vi olhos rogando misericórdia
deu-me gozo circuncizá-los
Focei como um porco na mixórdia
Deixei as feridas ganharem calos
Já matei um otário, um Papa
Já matei o maior vigário
Um tipo dissimulado e à socapa
Que me queria vender o Sudário
Eu matei o próprio Cristo
E trago Judas tatuado nos braços
No coração uma espécie de quisto
E nos dedos a procissão dos passos
E tudo isto porque escrevo
porque sou devasso e livre
Porque mato até o medo
e tudo aquilo que nunca tive
O meu destino é de sangue
Tenho atrás de mim um rastro
Madalenas que me deixam exangue
E tudo aquilo com que me basto
Por isso o meu poema é de morte
Um rasgo cirurgico no peito
Um eterno tentar da sorte
Neste amor mórbido do leito
Quando me leres, benze-te
Três vezes antes de me amares
O que sou em verdade, pertence-te
Pensa bem antes de me matares
José Ilídio Torres
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