Sinto a tenaz usurpadora
que nos prende os dedos
das mãos esquecidas,
não nos deixando separar seus intentos.
Sinto sua colheita avassaladora
e a inquietude,
que trespassa o desiderato
da simples conformação.
Sinto o talhar
dum revestimento
que nos oprime as gargantas,
numa secura infinda,
sem mácula.
Sinto o desprender
do entendimento
e a única saída, para um poiso de luz,
se desintegra e se esfuma,
sem retrocesso possível.
Há um ventre que se esvai
a cada minuto que passa.
As hienas da vil raiva
e os abutres sugadores
amarfanham tudo,
não perdendo pela demora.
O declínio
abeira-se-nos de todos os sentidos.
António MR Martins
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