quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Quântico


Um canto alado que cresça na cidade
E reduza as circunstâncias a pedaços
Que seja cântico negro ou cor da idade
Da quântica de ironias e cansaços

Que atravesse asfalto cimento e sinais
Sombra através dos dias de entremeses
Porta travessa das partes capitais
Pedras travestis de lares onde por vezes

Com vãos silêncios se disfarçam gritos
Contendo até que as paredes se desfaçam
Contratempos por vir corpos aflitos
Contrastes vagas presenças que ameaçam

Que se derrame nas praças apressadas
Nos derradeiros jardins habitáveis
Sobre as derrotas do hoje alimentadas
Na derrocada dos sonhos improváveis

Que se projecte nos olhos macerados
Revelando-lhes o brilho de uma alma
Redescoberta por gestos inesperados
Vindos do longe de uma antiga calma

E pode ser que as árvores se espantem
Que a cidade por fim erga a cabeça
Que reinvente pássaros que cantem
E algures na noite um coração estremeça

Mário Domingos

A minha singela homenagem ao poeta, e ao homem que hoje nos deixa. Até lá!

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