segunda-feira, 30 de junho de 2014

Telma Estêvão





AMARGURA

É como se em mim pousasse
Uma angústia lívida e lenta
Um sussurrar de véus em oração
O desnudar de um sal morno
Nos lagos do meu corpo arrefecido.

É como se em mim assentasse
Todo o luto da minha alma
Tecesse incompreendida
Um colar de uivos
Gélidos e cortantes

Percorresse sozinha a madrugada
Esquecida e abandonada.

É como se nos orvalhos, desgraçados
Vestidos de mim, arrastasse amargura
E sentisse a exigência vaga
E o suplicar longínquo
Dos perfumes desaparecidos, da Primavera.

É como se nos meus olhos, escarpados
Salpicados de alvura
O sol não penetrasse…
E as sombras efémeras gemendo
Não se encostassem eternamente a mim.

Telma Estêvão, in “Sob este céu azul, esta distância”, página 31, edições Arandis Editora, Março de 2014.

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