terça-feira, 4 de novembro de 2014

Joaquim Pessoa

 
Nada de mais actual!...
 





[Adoro ouvir falar, nas tuas costas]

Adoro ouvir falar, nas tuas costas,
de ti e dos tais crimes que tu fazes.
(É o tipo de coisas que não gostas
mas é do que as pessoas são capazes).

Nunca me intrometi. Deixo falar.
Por estranho que pareça, o julgamento
assim, à revelia, é salutar.
O réu é condenado de momento

depois volta, andando em liberdade,
a cometer mais crimes, mais excessos
contra a tradicional moralidade,

confundindo direitos e avessos.
E eu que sou escrivão contra vontade
arquivo, livremente,  os teus processos.

Joaquim Pessoa, in “Sonetos Perversos”, página 23, edições Litexa Portugal, colecção De VIVA VOZ, 1984.  

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