segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Licínia Quitério


Licínia Quitério, imagem da net.




[Nada demais, amigo]

Nada demais, amigo.

Tudo cabe nas nossas águas.

Miragens, dizes, e eu digo torres, tão altas, tão fundas, tão
iguais ao giz com que as traçámos.

Nos nossos sonhos, poderão nadar todos os peixes, nascidos
das conversas adiadas.

Tudo cabe, tudo vive, tudo se move, nos mil andares dos
velhos mitos.

Nas nossas mãos, nada toca, nada mancha, nada fere, nada
queima, nada.

Intacta a carne que o fogo alimenta e não devora.

Tudo acontece na outra face dos nossos lagos.

 
Licínia Quitério, in “O Livro dos Cansaços”, página 38, edição da Autora, Fevereiro de 2015.

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