sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Carlos André


Carlos André. Foto de Gonçalo Lobo Pinheiro.




MALACA

Não sabe se é formosa se famosa
a colina onde os anos se defendem,
alçada sobre as ruas e vistosa
ali, em frente ao mar que as ondas fendem;
Famosa de seu nome não formosa,
quando as naus de Albuquerque a surpreendem;
e o branco da cal há-de ser lume
que o sol acende a prumo neste cume.

O rio que serpenteia entre ruas
e casas afagadas pelas águas
é espelho onde reluzem velhas luas
nascidas noutros ermos outras fráguas;
com elas bailam tristes ninfas nuas,
lavando na corrente as suas mágoas,
no rio onde a história é uma jangada
e cada cais viagem inacabada.

No branco das paredes e varandas
há esboços de arabescos; e o vermelho
é réstia de outras gentes, outras bandas,
naufrágio de outro mundo, mundo velho.
Malaca, mar do sul, aragens brandas,
no cais onde te miras em teu espelho,
vulto de mar, outrora, e fim do mundo,
vulto de vento, agora, e mar sem fundo.


Carlos André, in “…o sol, logo em nascendo, vê primeiro” (Poemas e Fotografia), lançado em Macau a 30 de Janeiro de 2018, página 103 (cada poema tem fotos alusivas ao seu título, da autoria do mesmo autor, Carlos André), edições Livros do Oriente, Dezembro de 2017.  

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