Carlos Morais José, imagem da net.
António
Ramos Rosa Avenida Ouvidor Arriaga
há algum tempo que o
meu olho esquerdo me vigia
sonho-o acordado enquanto durmo, mas não
para me proteger das sombras, no meu quarto,
ou de quem durante a noite se senta na
cadeira vazia e me relata as horas
vigia-me, o cabrão, com o
despautério próprio dos olhos, a
sanha agreste de um malvado
albergo um agente
secreto na face: fareja um jogo duplo…
sempre que solicitado
e quando acordo, às horas a que o
mundo deveria confortar-se de doce e
banal normalidade, são a
perna e o braço que fraquejam, a lateralidade e o
bocejo, o horror das coisas repartidas
pobres vidas que antevejo
certos os antolhos pendurados dos sobrolhos e
uma fatiga de cílios, de pupilas, de lençóis a
secar na morrinha crepuscular e
disse ainda:
- o lado esquerdo, luar…
Carlos Morais José, in “Visitações”, páginas 19 e 20, edições COD, Macau, Novembro de 2013.
Sem comentários:
Enviar um comentário