Tudo começou numa brincadeira... Após sorrirmo-nos toquei-te... Um olhar diferente se expressou, sede de outro toque, e outro. Chegam abraços de parte a parte, nossas bocas se encostam e suas línguas desbravam múltiplos caminhos... nossas salivas se trocam. Os corpos estremecem, desde logo se aquecem e as mãos, que são as nossas, se entrelaçam. Uma das minhas (a direita) retira-se... faço-a deslizar pelo teu corpo, tacteando tua suave pele e tuas onduladas formas, minha mente exulta. Procuro com simbiose os pontos fulcrais. As bocas...essas continuam em grandiosa labuta e ouvem-se os primeiros arfares... já estamos fora de nós sempre em si interiorizados. Porque estivemos todo aquele tempo nus, sem nos tocarmos?... julgamos pensar agora aquilo que já não pensamos. Eis que tudo se torna deveras intenso e simultaneamente impreciso, mas muito mais enleante e fervoroso... agitamos, entretemo-nos, iniciamos, produzimos, enroscamo-nos, continuamos, culminamos, invadimo-nos. Aprontaste-te, penetrei-te... sem estratégias. Introduzi em ti um pouco de mim. Um acontecer de irregulares movimentos, descabidos de compasso, aumentam loucamente o teor da efusividade, estonteante... Qual aura de felicidade?! Num misto de prazer e brusquidão, levamos nossos seres à sublimação, em plena exaustão. Finalmente despojamo-nos... desde logo nos abraçamos, com força, extasiados... corpos transpirados, respiração ofegante... Dou-te um beijo na testa, transmites-me um sorriso... nossos olhares transbordam de alegria, tudo é brilhante à nossa volta... e tudo começou numa brincadeira... como muitas vezes!...
in "Ser Poeta", de António MR Martins, da editora Temas Originais
foto em cima, ao centro, RF Royalty Free
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