quinta-feira, 9 de maio de 2013

BIBLIOTECA DE MAFRA





116 - Raquel Naveira





Quando entrei
Naquela biblioteca
Toda de mármore,
Rosa e branca,
Estantes de madeira exótica,
Livros de couro
Gravados a ouro,
Senti um tremor,
Uma emoção,
Uma vontade de ajoelhar
Como se estivesse num templo.

Ao longe,
Uivavam lobos,
Nos corredores
Ouviam-se as notas de um órgão
Tocado por um monge
E os sinos do carrilhão
Se deslocavam no tempo.

Na biblioteca de Mafra,
Os livros eram como o vinho:
Amadurecidos,
Vindos
De remotas colheitas,
De antigas safras.

Tanta beleza,
Tantas vozes
Deixaram-me tonta
De uva e tinta.

 
Raquel Naveira

in livro “ Sangue Português”, páginas 59 e 60, Editora Arte & Ciência, S. Paulo (Brasil), 2012.
 
 

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