Obtive uma Menção Honrosa nos XXI Jogos Florais do Outono - 2013, do Município de Monforte, na categoria de "Poesia Obrigada a Mote", com o meu poema "Terras Sofridas".
A
palavra soltava-se Dos
paladares mais amorfos E
os versos Não
tinham contemplações Nem
receios De
cada raiz do medo Que
fecundasse o âmago da sujeição
A
palavra era a razão
A
verdade Em
condimentos de sabedoria E
inquietação
A
cada nova lua
Que
ilustrava o pleno céu A
palavra vertia significados Às
vezes de sabor amargo Outras
Deliciosamente
doce
E
em cada poema
Que
o poeta escrevia Um
novo sabor Ambientava
Os
semblantes de todos os leitores Em
busca da ementa da perfeição
Aí
o poeta
Elevava
a voz digestiva No
anseio de descobrir Novos
paladares Outra
plenitude Para
futuras degustações Da
palavra prometida
No outro mundo Precisarei de barcos, Muitos barcos modelares: De junco, Largas velas, Remos fortes, Que subam e desçam, Levados pela brisa Aos celestes lares.
No outro mundo,
Precisarei de barcos, Para navegar pelo céu Como o rei-sol E iluminar o além.
Sou hábil marinheiro,
Viver não será mais preciso, Navegar será preciso.
Raquel Naveira, in “Senhora”, página 35, capítulo “Senhora do Nilo”,
edições Temas Originais, 2010.
Gosto de ver as pedras da minha rua, Pelo passar do tempo enegrecidas Batidas na noite pela luz da lua, Nas manhãs, pelo sol são aquecidas. Pisadas por montes de pés, sem conta Uns enfiados em finos sapatos, Outros em alparcatas, pouca monta, Gastam-te, fazendo cair os incautos. Não soltam ais, as pedras da minha rua, Ao passarem, são libertos por quem vai Atarantadas e tolas cabeças na lua. Pedras antigas, nos enxergaram nascer, Eram estas as ruas da velha Lisboa Não posso esquecer que nos viram crescer.
Gabriela Pais, in “Matiz do Mundo”, página 16, edições Temas Originas,
2011.
As
veias já não têm o afago das correntes E
a mente estagna todas as memórias De
forma límpida Surdamente
mordaz
Tudo
se consome na tarde
Na
partida do esquecimento E
na chegada dorida a outro palanque Onde
retornarão todas as recordações
A
amizade flutua
Tal
como o fazem as aves No
seu voo brando Sentido
ao de leve na frescura de cada horizonte Como
matizes vinculadas a todo o pensamento
A
colisão agita todos os sentires
E
expurga a bílis ardente E
amarga como fel Fazendo-nos
meditar sobre A
existência e seus devaneios Numa
razão desnatural Embora
verdadeira Que
consolida todos os desígnios
E
nós acreditamos
A
malignidade das coisas
As
reais e as adjacentes Ficou
cortada de vez E
o sofrimento adormeceu para sempre Regressando
todo o encanto da paz
Mas
custam tanto interiorizar
Estes
pressupostos Que
filtram Cada
existência terrena
fecundada
terra berço
de tantos desertos da imaginação em
brancas perdidas entre o lume da vida perturbada em
carências e direitos onde
o raiar se omite a cada instante mágoa
de sentidos e pretexto
de negações
nesta
azáfama publicitada de desvalores
ultima-se
a discórdia corrente mas
o receio instala-se à flor da pele e
nada se consegue vincar em conformidade numa
lastimosa desatenção contínua pelos
enredos de baixa índole e rasteiros no seu delinear
apoquentamo-nos
mas
aparvalhamo-nos de
grosso modo e
as palavras não fazem gerar a força consistente que
permita tentar modificar este
rumo de autêntica asfixia social
Sábios
os caminhantes os
que não param na sombra nem
na curva da estrada verde Sábios
os dedos que
consertam o cosmos da terra da
semente à erva da raiz ao corpo Sábios
todos os que respiram a
génese da palavra do coração que
dança e ri em doces impulsos
Carlos Teixeira Luís, in “Homem-Árvore”, página 7, edições Lua de Marfim, Junho
de 2013.
sinto a tua presença Preciso de ti, mas não me olhes, eu adivinho-te Basta que me faças aquilo que sem pedir, sei que adivinhas ser meu desejo Faz-me companhia, dá-me força e eu respiro melhor.
Dá-me a tua mão e fica assim
preso e tranquilo em mim Quieto e em silêncio fica assim segundos ou para sempre, mas fica comigo que sem ti, paro, estagno, tenho medo de andar para a frente.
As nossas palavras estão gastas,
estão todas ditas Os nossos ouvidos surdos e os nossos corpos inquietos precisam de calma absoluta Tudo em nós agora precisa estar quieto sentir em paz, apenas a presença um do outro no cheiro do silêncio que é meu e teu que é único e só nosso.
Fica comigo, senta-te ao meu lado,
não me deixes ainda mais inquieta.
Inês Maomé, in “ Em
Carne Viva”, páginas 58 e 59, edições Corpos Editora, Junho de 2013.