terça-feira, 29 de outubro de 2013

Conceição Bernardino





Hei-de arrancar as palavras com os dentes

 

Hei-de arrancar as palavras com os dentes
espremê-las, uma a uma com a saliva que me
resta
hei-de suportá-las mesmo que me cortem a língua
e a sirvam aos cães pródigos da benevolência, a
ira

Saberei à mesma escrevê-las
nas flores de Maio, em pleno inverno,
antes do romper da frígida madrugada
em punhos feitos de mármore escarlate

Hei-de desenhar nos escarros desta liberdade
os nomes a carvão, onde Auschwitz calou os seus

Hei-de levantar a voz, engolir a palavra em seco
e vomitá-la onde a surdez a cala, corrupta

 
Conceição Bernardino, in “identidades”, página 10, edições Lavra… Boletim de Poesia, 2013.    

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