sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Ângelo Alves





ONDAS DE MATÉRIA

 
Não grites assim, mãe!? Levo o carroço,
O pote, o balde, a corda, o regador..
De passo estugado paro no poço
Fundo. Tronco túrgido de roedor!

Bate o balde na água fresca; o destroço
Pelas ondas. Num puxão o rigor
Desce em onda, o balde gira e endosso
Água álgida para o teu regador.

A exsudar reboco o carroço. Coço
Têmporas e assalto o “Vale Maior”.
Preparas o sulfato enquanto eu roço
As ervas das cepas… Ronca o motor.

Berras aos meus nervos fracos. Não posso
Mais! Quero a perfeição! Folha em tremor.
Quase a queda… Rumino o meu remorso…
Acabar aqui… Que o céu leve a dor.

Ângelo Alves, in “Falo Do Fundo”, página 9, edições Papiro Editora, Janeiro de 2014.

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