Nuno Júdice, imagem da net.
HORÁRIO
O vento, nas estações de província, tem
o mesmo rumor a que a infância habituou
o ouvido.
Esse vento não se parece com nada
do que tenho à minha volta: a cidade, ruas,
prédios, imagens apressadas do vazio.
No entanto, paro por instantes
para me lembrar melhor desse ruído
que desapareceu.
Ao fundo, um pedaço de rio leva-me para
o outro lado, onde o vento ainda sopra
como sempre.
Saio da sombra para entrar no cais
que o sol da tarde torna insuportável,
embora não embarque para parte nenhuma.
O vento, por vezes, limita-se a dizer
que o fim da linha pode ser uma estação
de passagem.
Nuno Júdice, in “Um Canto na Espessura do Tempo”, página 27, edições Quetzal Editores,
Lisboa 1992.
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