sexta-feira, 30 de abril de 2010

Consolação

Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.

Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a morte é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.

Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.

Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.

Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.

Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.


ROSA LOBATO DE FARIA

Arcas do esquecimento

Esplêndidas as gloriosas arcas
E o elixir que elas contêm
Pelo aroma que transmitem

Se auto-avaliam parcas
E a tudo que de si advém
Sem que tal o debitem (ou creditem)

Nunca passam além das marcas
Resistem sem um vintém
Mesmo que não acreditem

Expressas as suas atitudes
Embora julgadas irreflectidas
Apresentam-se só e fragilizadas

Nomeiam-se plenas de virtudes
Por nunca terem sido detidas
E serem de todos enamoradas

Acompanhadas de vicissitudes
Sendo por tal apetecidas
Jamais serão divulgadas


António MR Martins
origem da foto: net

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Três poemas do livro "Amador do Verso", de Emanuel Lomelino



Valor

Na perplexidade da certeza
Surge a divina iluminação
De um abraço, a riqueza
Da amizade de um irmão

Qual o valor da amizade
Que os amigos podem dar?
Ninguém sabe da verdade
Ninguém pode quantificar

Qual o valor de um amigo
Que na ausência se faz sentir?
A distância só será castigo
Se a amizade não se reflectir

…………

Ítaca


Percorro caminhos sem rumo definido
Procuro descobrir um lugar para ficar
Onde tudo na vida faça algum sentido
E o meu ser alcance um novo patamar

Preciso encontrar esse efémero espaço
É grande mister abraçar nova energia
Ganhar outros hábitos, novo compasso
Desfazer-me desta perniciosa letargia

Pretendo outras cores e frescos brilhos
Quero novos resplendores, outros sóis
Que iluminem uma existência refeita

Vou libertar-me nestes inócuos trilhos
Aonde não existem vilões nem heróis
E aproximar-me de uma vida perfeita

…………

Assim me dou

Tenho uma paixão e não guardo segredo
Tenho na veia palavras que correm
E não me incomodo ao sangrar
Sou dador de versos que partilho
Sentimentos que vos ofereço
Sou um livro aberto.
Sou poesia ou talvez não
Dou o que quero e posso
Letras, palavras, frases, versos, ideias.
Sou uma história que relata
Emoções à flor da pele
Sentimentos na ponta da língua.
A minha voz é muda e ecoa em vossos olhos
Vocês lêem os meus lábios
Ficam com uma imagem do que sou
Ficam com uma ideia do que quero
Ficam a saber o que penso.
Faço da poesia o meu grito de revolta
Escrevo a minha presença no mundo
Rasgo-me em pedaços de sentido
Dou-me retalhado mas compreensível.
Assim deixo ao mundo o meu legado
Herança maior do que a que me foi deixada
Tudo isto partilho e vos deixo
Sem testamento ou últimas vontades.

…………

Emanuel Lomelino

::::::::::::

Emanuel Lomelino, o autor do livro de poesia “Amador do Verso”, traz-nos experiências, divulgações e sentimentos nas palavras que nos deixa por legado (como ele próprio afirma). O Emanuel não teve uma vida fácil e sabe o que é comer o pão que o diabo amaçou.
Esta sua obra literária que nos surge às mãos, pela editora Temas Originais, nos envolve em circunstâncias que são as suas e tudo o que em volta delas se desenrola.
O Emanuel é um homem que está pronto a apoiar o seu amigo, ou a escrita de quem lhe merece a atenção. Chegou a vez de ser ele o referenciado, e é isso que neste momento faço. Não por simples ajuda ou retribuição. Faço-o porque a poesia de Emanuel Lomelino merece ser conhecida e divulgada, para depois ser reconhecida.
É um enorme prazer, aliás um privilégio, publicar e referenciar o Emanuel no meu blogue.
Façam favor de o ler, no seu: “Amador do Verso”.


António MR Martins

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Solos das preces perdidas


Chão calcado
Pela dor
Em tempos de sofrimento

Onde o sol
Tinha mais calor
E o trabalho menos provento

Chão perdido
No desalento
No campo e na cidade

Alentejo
Hoje um portento
Onde se festeja a Liberdade


António MR Martins

As palavras que o livro tem


O livro grande ternura
A procura que não abandono
Na etapa de cada palavra

Tal qual a terra amanhada
Vê florir o crescimento
Do trabalho de sua lavra

Nestas páginas do desejo
Onde correm as metáforas
Da escrita da invenção

Se projectam os clamores
De um valor bem profundo
Da palavra em ebulição

Tocam os sinos a seu jeito
Faz-se a festa bem airosa
No meio da felicidade

A palavra no branco papel
Torna-se muito mais formosa
Faz fluir a Liberdade


António MR Martins

2010.04.23
(Dia Mundial do Livro)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Três poemas do livro "Varandas de Luar", de Dalila Moura Baião



AURORA BOREAL

Nascem madrugadas apressadas,
entrelaçadas de sonho e Vida;
irrompem ternuras orvalhadas,
na inquieta irreverência da palavra,
que em castelos de luar,
flutua… perdida!

…………

NAMORO DO SOL

Hoje fui à janela de cristal
Espreitei e vi o Sol dependurado
Surpresa, quis tocar-lhe de mansinho
Então, vi-o partir p’ra outro lado!

Saltava como criança feliz
Na mão levava um raio enfeitiçado
Deixou preso um recado no vento
“Cautela, porque estou enamorado”…

Fechei a janela muito a medo
Esperei no soalho envidraçado
Dancei a melodia do Segredo
E fiz dessa ilusão um aliado!

Foi quando o meu olhar se iluminou
E o Sol transpareceu sua Verdade
Juntinhos improvisaram um sonho
Eu vi o Sol beijar a Liberdade!...

…………

VARANDAS DE LUAR

Que ternura é essa
que irrompe desse olhar
cansada e secreta
presa na memória
duma flor colhida
em varanda de luar?
Colho do teu corpo a melodia
e danço contigo, ao som do desejo
embriagado
dum Verão por acontecer…
Fascina-me esse silêncio
atarefado em se ocultar.
Rasgas da boca o sorriso,
como gaivota apressada
e surge o beijo.
Tal qual um bater de asas
livre e doirado, cheirando a mar.
Rasgo da memória, a flor.
Será que doem as imagens
com fragmentos de luar?
Que envelheça a dúvida,
aí!
Onde a ternura é jovem
na doçura do olhar.

…………

Dalila Moura Baião

::::::::::::

Tenho para com o livro “Varandas de Luar”, de Dalila Moura Baião, um carinho muito especial. É que esta obra, constituída em livro-papel pela editora Temas Originais, teve a particularidade de ser apresentada por mim, no seu lançamento, em pleno dia de meu aniversário, 27 de Novembro de 2009. No entanto o carinho que refiro não é só por esse acaso, no início da sua existência, é, também, porque não estava prevista essa apresentação ser feita por mim (eu não conhecia a autora, sequer), como veio a acontecer e porque se determinou uma verdadeira empatia com esta belíssima obra. Subir a estas varandas, donde se avista uma paisagem de transcendente beleza, foi um prazer enorme. A poesia da Dalila embeleza o semblante do leitor, derivado desse revelado pressuposto, sucessivamente, na abordagem de temas tão belos e naturais, como a própria natureza e/ou o amor que tonifica o seu seio familiar.
Esse prazer não termina após a leitura dos seus poemas, aliás quantifica-se na memória do que nos fica depois dessa leitura. E ter a oportunidade de repetir a subida a estas majestosas varandas, conforme irá acontecer no próximo sábado dia 24, na terra natal da autora, em Santo Estêvão – Benavente, mais vem fortalecer esse sentir.
É óbvio que tudo isto se traduz, igualmente, no conhecimento que hoje tenho da autora, pelos encontros tidos em vários eventos e, pelo regular intercâmbio das nossas mútuas palavras. Nossa amizade vai-se fundamentando e cimentado.
Quanto ao livro “Varandas de Luar” recomendo-o à leitura, pelos belos poemas que contém, mas também, como é evidente, pela sua grande qualidade. Aqui as palavras vão surgindo repletas de belos significados.

António MR Martins


Ao findar de um dia

Segredo-te
Na penumbra da noite
A contenção do meu sentir

Relembro-te
A validade desse guardar
Sem divulgação

Questionas-me
Antes de dormir

Oiço-te
Com toda a atenção

Recordas-te
Do nosso último segredo
E como o colocámos
Em nossas recordações
Invisíveis
Não palpáveis
E escondidas

Segredo-te
Pela vez última do nosso descanso
Não esquecendo nossas feridas

Lembro-me
Como se fora hoje
Até amanhã

E pela madrugada fora
Surge-nos um dia novo
Uma outra manhã

António MR Martins
foto in http://www.baixaki.com.br/papel-de-parede/17334-montanhas-ao-anoitecer.htm

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O livro "Entre as margens da memória" (excerto), o texto "9 Minutos", de Paulo Afonso Ramos - Edições Temas Originais


9 Minutos


Tenho nove minutos para fazer tudo o que me falta. E ainda me falta tudo. Olho para trás e vejo que quase nada fiz. Ou melhor, que tudo quanto fiz foi tão pouco para o que poderia – e deveria – ter feito, que agora, que restam nove minutos, tentarei redimir-me, um pouquinho, de tudo o que ignorei quando pensava que teria todo o tempo do mundo para, a meu belo prazer, fazer as coisas que mais gostaria de fazer. Puro egoísmo.

Quero redimir-me. Quero, mas não consigo. Quero que as palavras possam correr pelos corações, que possam saciar a sede dos que precisam de água e que possam alimentar as barrigas esfomeadas que, por este mundo, se escondem ou que aparecem num nítido pedido de ajuda. Que as palavras, tudo o que ainda tenho, possam trazer a paz.

9 Minutos. Que não pararam, que fugiram de mim como na vida tudo fugiu e em que nada mudou. Lamento que as mentes, como a minha, só acordem para a vida quando já é tarde demais, quando já nada podem fazer e depois, em parcos minutos, queiram fazer tudo o que, numa vida inteira, ignoraram. Lamento e penitencio-me por ser igual a todos, por olhar para o outro lado. Lamento profundamente embora de nada adiante. E agora, que escolhi. E não foi por falta de avisos, de conselhos e de vontades que o escolhi. Foi porque só pensei em mim e no momento que vivia quando escolhi cada passo, quando tomei cada decisão e nada mais.
E nos meus últimos segundos, se escolher pudesse, gostaria de usar as seguintes palavras, sabendo de que, com elas, me afasto:

Perdoem. Amem. Uni-vos. Libertem-se. Olhem em redor.

Esgotou-se-me o tempo e nada fiz.

…………

Paulo Afonso Ramos

::::::::::::

“Entre as margens da memória”, um excelente livro de prosa poética da autoria de Paulo Afonso Ramos (um amigo), editado sob a chancela da Temas Originais. Para mim, não é o seu melhor livro (“Mínimos Instantes”, está nesse patamar, pelo menos segundo a minha óptica de singelo leitor) mas tem diversos textos de enorme qualidade, de onde saliento, para além do ora aqui publicado, Diz-me, Embarco na liberdade dos nossos sonhos e Traz-me de volta o meu sorriso, isto, para além de outros. O Paulo é um poeta, um escritor, que ama a palavra e vive com todas elas, em todos os momentos, as palavras são uma das saliências do seu gosto pela vida. Tem sido uma referência, para mim, foi o grande incentivador e impulsionador para que o meu primeiro livro tivesse vida. Portanto não posso emitir opinião só sobre o autor de qualidade, que o é, mas também o devo fazer pela amizade, que vai ganhando fortes alicerces, entre nós.
Um facto é relevante nesta breve alusão a este seu livro “Entre as margens da memória”, é uma obra de grande qualidade, que nos faz sonhar, meditar e bastas vezes nos leva a concluir que nós, como seres humanos, que o somos, nunca fazemos o bastante para cumprir o nosso verdadeiro papel terreno, e quando um dia isso verificamos, torna-se, efectivamente, tarde para fundamentar esse incumprimento.
Para finalizar esta pequena referência sobre esta obra de Paulo Afonso Ramos, passo a transcrever o primeiro parágrafo da respectiva Nota Introdutória, da sua própria autoria: “O corpo segue o que a mente manda. Há, portanto, uma força motriz que gere o nosso Universo, num nosso que é, de facto, o de cada um, em exclusivo.”.

Quanto ao livro, propriamente dito, façam o favor de o ler.

António MR Martins


Ó fragmentado corpo


Ó voz
Que não consente
O entoar duma canção

Ó mão
Que estás dormente
Não encontras a precisão

Ó braço
Que se move dolente
Não abraças o teu irmão

Ó coração
Que já não sente
O seu bater pela paixão

Ó boca
Do teu tamanho
Que já não beijas com perfeição

Ó mente
Do desencanto
Que não exultas como vulcão

Ó ouvido
Que não escutas
Pela deficiente audição

Ó pé
Que calcorreias
Sem o sentido da orientação


Ó ser
Que não te entendes
E entras em colisão
Responde
Agora ou nunca
E encontra a solução


António MR Martins
foto da net

domingo, 18 de abril de 2010

Próximos eventos da Temas Originais (Abril)


Estimado/a Leitor/a,
Em Barcelos: 22 de Abril, pelas 21:30

Apresentação do livro de Contos “Para Além do Tempo” de José Ilídio Torres
O autor, José Ilídio Torres, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de apresentação do livro “Para além do tempo” a ter lugar no Auditório da Biblioteca Municipal de Barcelos, em Barcelos, no próximo dia 22 de Abril, pelas 21:30.

Obra e autor serão apresentados pelo Prof. Luís Manuel Cunha e esta sessão contará com um momento musical por Ção Pitada.
Para além do tempo
(Contos)

Sinopse: "… De indiscutível pendor literário, não raramente documentado em momentos de verdadeira prosa poética, os contos desta colectânea revelam claras reminiscências populares, através de acções centradas em personagens invulgares, sobretudo femininas, onde o ritual mágico do maravilhoso reenvia o leitor para um universo muitas vezes simbólico e fantástico com acentuadas influências das tradições dos contos populares…" (do Prefácio, de Luís Manuel Cunha).



Em Benavente: 24 de Abril, pelas 16:00

Apresentação do livro de Poesia “Varandas de Luar” de Dalila Moura BaiãoO Presidente da Junta de Freguesia de Santo Estêvão, Ricardo Alexandre Frade de Oliveira, a autora, Dalila Moura Baião, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de apresentação do livro “Varandas de Luar”, a ter lugar na Biblioteca Escolar de Santo Estêvão (antiga escola primária), sita na Rua Manuel Martins Alves, Santo Estêvão, em Benavente, no próximo dia 24 de Abril, pelas 16:00.

Obra e autora serão apresentadas pelo poeta António MR Martins.

Varandas de Luar
(Poesia)

Sinopse: Poeta que ousou espreitar o sol, buscando a claridade dos dias numa melodia de cor e, reinventando a poesia num gesto de generosidade, para mim, para ti, para nós. (do Prefácio, por Maria Lina da Silva Faria).
Vou estar aqui!!!



No Montijo: 24 de Abril, pelas 16:00

Apresentação do livro de Contos “Epílogo Negro” de Diogo Godinho


O autor, Diogo Godinho, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de apresentação do livro “Epílogo Negro” a ter lugar na Biblioteca Municipal Manuel Giraldes da Silva, sita na Avenida 25 de Abril, 13-15, Montijo, no próximo dia 24 de Abril, pelas 16:00.

Obra e autor serão apresentados por Ana Paula Venâncio e Mónica Lopes.

Epílogo Negro
(Contos)

Sinopse: "Inspirada em temas como o amor, a beleza e a morte, a obra evoca passagens de romantismo e intimismo, que remetem o leitor para cenários intemporais, que nos deslumbram e encantam… o passado é presente e pode ser futuro nesta sucessão de imagens coloridas, de cenas místicas vivenciadas mas não vividas…" (Ana Paula Venâncio).



Lançamento do livro de Poesia “Para Lá do Azul” de Eufrázio Filipe
No Seixal: 30 de Abril, pelas 18:00

O Presidente da Câmara Municipal do Seixal, Alfredo Monteiro, o autor, Eufrázio Filipe, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “Para Lá do Azul” a ter lugar na Galeria Augusto Cabrita, Fórum Cultural do Seixal, no próximo dia 30 de Abril, pelas 18:00.
Obra e autor serão apresentados pelo Dr. Arlindo Mota e esta sessão contará com a leitura de poemas por Isabel Guimarães.

Para Lá do Azul
(Poesia)

Sinopse: "uma matriz que se assume, na plenitude da sua subjectividade, na construção de um mundo visto de dentro, mundo singular e inimitável, a que só o sentimento dá acesso. Mas um mundo que, nem por isso, corta as amarras com o mundo exterior." (do prefácio, Arlindo Pato Mota).

Sobre o Autor: Eufrázio Filipe

Eufrázio Filipe, inscrito na Sociedade Portuguesa de Escritores. Participou em várias colectâneas de Poesia, foi colaborador de várias publicações: República (Lisboa), Suplemento Diário de Lisboa, A Opinião (Porto), Notícias da Amadora (Amadora), Jornal do Centro (Coimbra), Independência D’Águeda (Águeda), Libertação (Aveiro). Foi director da revista “Movimento Cultural”, da Associação dos Municípios do Distrito de Setúbal, Revista Poder Local. Foi Presidente da Câmara Municipal do Seixal de 1974 a 1998. Obras Editadas: Poemas Para Quem Quiser (Poesia, 1969/75 edição do autor, 1976); A Secular Barca do Zé (Contos, Plátano Editora, 1978); A Linguagem dos Espelhos (Poesia, Livros Horizonte, 1982); Espelho das Viagens (Romance, Plátano Editora, 1982); Vagarosos Instantes (Poesia, Barca Nova Editor, 1984); Mar Arável (Poesia, Livros Horizonte, 1988); A Profanação das Metáforas (Poesia, Outra Banda, 1994); A Inocência dos Murais (Poesia, Estuário Publicações, 2003); Que Fizeste das Nossas Flores (Poesia, Papiro Editora, 2008); Seixal Somos Todos Nós (Crónicas Políticas, Edição Câmara Municipal do Seixal, 2009); e Para Lá do Azul (Poesia, Editora Temas Originais, 2010). Inédito: Caçador de Relâmpagos (Contos a publicar)



Os nossos eventos têm Entrada Livre!
Se puder, apareça!
Se puder, divulgue, s.f.f.
Saiba mais em:
http://www.temas-originais.pt/
Muito Obrigado
Temas Originais
Torre Arnado
Rua João de Ruão, 12 – 1.º, Escrit. 19
3000-229 Coimbra Telef: 239 100 670
Site: www.temas-originais.pt
Blog: http://www.temasoriginais.blogspot.com/

sexta-feira, 16 de abril de 2010

"Etéreo"- Livro de poesia, de Gonçalo Lobo Pinheiro (excerto) - O poema "Lisboa"



Lisboa

1

Lisboa, minha Lisboa;
De ti nasci para a vida.
Em ti vivi e vivo, constantemente,
Sonhos vários, de cores diversas;
Luzes na escuridão,
De uma noite tal, inequívoca,
Onde percorro ruas e becos
De fina e requintada loucura, e
Por momentos me perco na tua história.
Olho à volta o recorte dos telhados
E a longevidade de janelas, agora fechadas,
Perdidas no tempo e na identidade
De uma cidade de trato forte e consequente.

2

Do Castelo avisto o Tejo.
Em ondulações permanentes
Reflecte a luz de um sol, que
No dia seguinte será o mesmo sol, e
De noite, transmite a penumbra de uma
Semi-lua, rasgando o céu que me seduz.
Barcos cruzam entre si desenhos
De uma linearidade subtil, e
Onde, por breves instantes,
Uma gaivota mergulha na busca de sustento.
Como me cativa esta sequência de atitudes
Traduzida na melancolia dos mesmos passos, dia após dia,
E que agora contemplo, para entender.

3

Terra de romantismos e outros ismos;
Onde, de eléctrico, percorro os carris
De uma cultura a cada esquina,
Invadida pelo olhar do poeta adormecido,
Ao dedilhar o livro da introspecção.
Terra de Negreiros, de Pessoa, e minha também,
Por onde me perco a cada dia
Seduzido pela poesia que escuto aqui e ali, e
De onde bebo o dom de existir.
Lisboa que transmites sem sossego
Palpitar as palavras ícones
De uma geração literária influente
Nas minhas humildes preces a ti.

4

Do algeroz cai a água
Que um dia hei-de beber;
As varandas, com flores, dão cheiro
À cidade que fotografo.
Revelo o concreto da realidade abstracta, e
Aí me insiro, por paixão, por gosto próprio.
Lisboa não se dissocia de mim; eu dela nem pensar.
Conheço a todo o custo, os caminhos que
Compõem a tela citadina, e onde inconsciente,
Me perco de tantas vezes os percorrer.
Paro, por mero acaso, naquele beco recôndito;
Odor reconfortante identifica a sardinha que,
Vendida pela varina, assa no braseiro.

5

Ao oriente me chego.
Passeio por jardins onde me conformo, e
Calculo, por breves raciocínios,
O restritivo específico da tua espécie.
A tua existência, no tempo, efectiva,
Demonstra a evolução contínua
Da história que passa nas tuas ruas, e
Todos pisam sem importância.
Povo ignóbil, este, que saqueia o teu espaço
Acomodando a sua inteligência, e
Não evoluir a cultura e o fado, que
De ti faz parte,
E lhes transcende.

6

Transito para ocidente,
Onde aglutino a razão do meu ser, do meu existir,
Vislumbrando o ocaso do
Sol que amanhã continuará a ser o mesmo, e
Onde Lisboa ocupará o mesmo lugar.
Mude-se o fado ou não,
Os pregões continuarão; o ímpeto bairrista também.
Vou acreditar que a nós, alfacinhas, te confinas.
Sendo a todo o momento,
O Tejo que te refresca e
Te garante, com o passar contínuo do tempo,
A jovialidade com que encaras as gerações que
De ti usufruem e assimilam o teu crer.

…………

Gonçalo Lobo Pinheiro






::::::::::::

O Gonçalo é meu filho e eu adoro a sua poesia.
Nasceu em Lisboa a 4 de Abril de 1979 e reside, actualmente, na vila de Belas (Sintra).
Gonçalo Lobo Pinheiro é fotojornalista desde 2002 e, actualmente, colabora com os jornais A Bola e I, nos quais se dedica exclusivamente à fotografia desportiva. Desde 2004 que colabora com a cantora brasileira Daniela Mercury e as suas fotos são publicadas no seu site oficial e outros meios de divulgação da carreira da cantora. O seu trabalho na área do fotojornalismo já obteve alguns reconhecimentos por parte dos seus pares dos quais se destacam o 1º e 2º lugares, respectivamente, na 3ª e 5ª edições do Prémio de Fotojornalismo Liberty Seguros e a Menção Honrosa na categoria de Reportagem Noticiosa na 8ª edição do Prémio Fotojornalismo Visão/Bes 2008.
Mas aqui estamos a falar (escrever) de poesia (ou seja, da palavra escrita) e isso o Gonçalo fá-lo desde 1999 e em 2009 editada o seu primeiro livro “Não Existes ou o breve manual prático de como esquecer um amor antigo”, sob a chancela da Temas Originais e com a mesma marca publica o seu segundo livro de poesia (depois de participar numa antologia, Tu Cá Tu Lá, em 2009) “Etéreo”, do qual faz parte o poema aqui publicado. Se quiserem acompanhar o seu trabalho podem saber mais em: www.goncalolobopinheiro.com (Fotojornalismo); www.fotojornalismos.blogspot.com (Fotojornalismo) e www.pedacosdaminhaexistencia.blogspot.com (Poesia).
O Gonçalo é meu filho e eu adoro a sua poesia.

P. S. – Parte do texto é retirado da biografia da contracapa do livro “Etéreo”.

António MR Martins



quinta-feira, 15 de abril de 2010

Nu da palavra

Amarrado singelo
Despido na plataforma
Desguarnecido da eloquência

Desembainhado no nó
Tosco no melindre
E na nudez da envolvência

Detido a descoberto
Não disfarçado de nada
Patente de toda a proveniência

Apreendido só
Da metáfora desprovido
Destituído de qualquer saliência

Preso na desprotecção
E de toda a alienação
No sentido da conveniência

Algemado ao pó
Da escrita não vestido
A cumprir rude penitência


António MR Martins

foto da net

quarta-feira, 14 de abril de 2010

"Livro Imperfeito", de António Paiva (Excerto da obra)


“Se sofro de algum romantismo é pelo gozo de o sentir, não por queixume ou dor. Como todos os românticos, saboreio a delícia de me perder, num gozo de sofrimento por inteiro. Por isso escrevo, muitas vezes escrevo para além do que pensei escrever. Beneficio por isso, das carícias que as palavras me fazem na mente, enquanto me escorrem como néctar até à ponta dos dedos. Se entrego as páginas deste livro ao abstracto narrador, são várias as razões. De entre elas, o facto de saber que alma e sentir todos têm. Para além disso, a minha existência por si só não seria capaz de o escrever. Sempre assumi e reafirmo que a minha escrita é o plágio de muitas vidas de leitura.
Sempre que escrevo algo pela primeira vez fica-me algum sabor amargo, por ser a última vez que o escrevo pela primeira vez. Mesmo que aos olhos de muitos sejam frases despidas de sentido, são, pelo menos para mim, pensamentos fluidos, navegando em mar genuíno. Muitas vezes quando escrevo não resisto ao gosto de falar em mim, não é por uma questão de vaidade, mas sim por me facilitar o auto-conhecimento. Aprendi que é por aí o caminho para melhor conhecer os outros. Pode haver quem discorde, mas os gestos com que nos mostramos são em tudo semelhantes, até no modo como nos iludimos. Por dentro somos feitos dos mesmos desassossegos. Por fora somos gestos e roupagens. Um rosto.

A realidade pode perturbar o sonhador,
Mas o contrário não é menos verdade.”

…………

António Paiva

::::::::::::

António Paiva, quando o olhamos, olhos nos olhos, apercebemo-nos da grandiosidade do carácter de quem ali está, à nossa frente. Depois lemos o que escreve, seja poesia, seja prosa, e as suas palavras saboreamo-las com o maior dos prazeres. Há uma pura sensação de empatia com elas e com aquilo que nos contam.
António Paiva é uma referência, para mim e para muitos outros que o conhecem e àquilo que escreve, e é uma felicidade enorme poder contar com a sua amizade.
Este seu “Livro Imperfeito”, agora meu porque está aqui comigo, a meu lado, nesta secretária onde vou ordenando estas simples palavras, diz o autor que este livro é imperfeito, porque inacabado, dando ao leitor a possibilidade de o continuar escrevendo. Aí o valor intrínseco desta obra que nos leva a emocionar, a sugestionar e a imaginar outras nuances que possam ser correlacionadas com as do seu conteúdo, na perspectiva de o tornar infinito. António Paiva conta-nos coisas, seus sentires, suas passagens na vida e contrasta-nos suas ideias e experiências.
“ Livro Imperfeito” roça a perfeição no modo em que nos retrata lugares e situações que nos fazem sonhar. Ele também fala de Coimbra, mas de uma outra Coimbra por onde ele passou a sua juventude, mas é um dos muitos pólos de interesse deste livro, ora lançado, sob a chancela das Edições Ecopy, e que eu tive a oportunidade feliz de presenciar na sua apresentação, em Coimbra, no passado dia 11 (FNAC-Forum).
Por tudo o que referi, e por muito mais, e sobretudo por ser um livro da autoria do António Paiva, efectivamente, o recomendo.

António MR Martins


Coimbra em Simbiose



Destas amarras
me desprendo

Nesta cidade
das letras

Este é o templo
em que aprendo

Aqui reflicto
nos versos que soletras

Coimbra
de muitos amores
de uns
e de outros

Gosto de ti
sem favores

Na premência
do encanto

Com toda
a sensatez

Ergui a voz
para um canto

Que em ti
libertei de vez


António MR Martins

in Encontro de Escritas, 2009.09.02

terça-feira, 13 de abril de 2010

Três poemas do livro "Pedaços D'Alma", de Sandra Nóbrega (Fly)



SIMBIOSE

És Boca e eu Sorriso
És Brisa e eu sou Ar
És o Tudo que eu preciso
Nesta História de Encantar

És Lenha e eu sou Lume
És Fogo e eu sou Frágua
És Montanha e eu o Cume
És a Sede e eu sou a Água

És Areal e eu Maresia
És Onda e eu sou Mar
És Júbilo e eu Alegria
Deste Doce Deslumbrar

És Deserto e eu Oásis
És Beleza e eu Flor
És a Folha e eu o Lápis
Que escreve este doce Amor

És Sentimento e eu Sentidos
Sou a História e Tu o Tempo
Destes tantos instantes vividos
Que me invadem Coração adentro!

Eu e Tu somos assim
Somos Loucura e Cumplicidade
Somos Simbiose sem fim
De Amor, Ternura e Verdade

…………

DOCE MELODIA DE AMOR

Ouso exultar as demandas da alma
O delírio do corpo
E este Querer de Mulher
Este frémito premente
Deste corpo tórrido, ardente
Que suplica e Te quer
Desnuda-me a sede do Ser
Percorre a fonte que há em mim
Sorve-me, sôfrego de prazer
Numa contenda sem fim
Teus olhos inebriados
Percorrem-me e tudo flameja
Mil beijos são roubados
Aos meus lábios de cereja
Enleiam-se as mãos
Tocam-se os corpos com doçura
Fluidos, suor e calor
Fundem-se desejos e gemidos
Leva-se ao êxtase a Loucura
Vestida de cândida Ternura
Numa doce melodia de Amor

…………

SEDUZ-ME OUTRA VEZ

Dança comigo…
Deixa-Te envolver
Nesta magia de acordes em que os corpos se buscam
Os olhares se cruzam
E o ritmo comanda o pulsar dos nossos corações em sintonia…
As tuas mãos bailam pelo meu corpo
Impondo o ritmo da paixão
O teu olhar inebria o meu numa sedução em descompasso
Os corpos juntos acertam o passo
No desalinho da Loucura
Um, dois
Ternura
Três, quatro
Doçura
Dança comigo…
Seduz-me outra vez

…………

Sandra Nóbrega (Fly)

::::::::::::

Fly, como a reconhecemos do Luso-Poemas (um site onde postamos as nossas criações escritas. Prosas e versos) e pseudónimo literário de Sandra Marta Palma Férias Nóbrega, ou seja Sandra Nóbrega (Fly), que lançou o seu primeiro livro de poesia a 9 de Maio de 2009, sob a chancela da Temas Originais.
“Pedaços D’Alma” reflecte toda a paixão que a autora coloca nas coisas que leva a cabo. Sandra, uma mulher que tenho por amiga, tem o coração nas mãos, estando sempre pronta a ajudar e a partilhar. Essa sua forma de estar já lhe trouxe inconvenientes, pela simples razão de procurar estar sempre presente. Só que, por vezes, os desígnios são chocantes e inesperados e trazem-nos para o dia-a-dia a recordação amarga, por nos considerarmos insuficientes e impotentes para alterar o percurso negativo das coisas.
A sua poesia revela toda essa sua maneira de ser, e estar, e envolve-nos num muito agradável ambiente de amor, carinho e amizade, constantemente.
Estive presente no lançamento desta sua obra, no Montijo, e fica-me a grata recordação de ter sido convidado, pela autora, para ler três dos poemas incluídos no conteúdo de “Pedaços D’Alma”. Se puderem tentem interiorizar este fascinante livro de poesia, lendo-o e relendo-o.

António MR Martins




Mensagem em embrião

Silvestres
Esses frutos

Brotados
Nesse teu campo

Primor
De refluxos

Leve deusa
Sem seu manto

Os outros
Retiraram-se

Por serem astutos


António MR Martins

in Encontro de Escritas 2009.09.05
foto in Lushpix Value - RF Royalty Free, na net

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Antologia de Escritas nº 7 - Março 2010 (com a minha participação)




Já se encontra publicada a “Antologia de Escritas nº 7”, referente ao ano de 2010, cuja 1ª edição está datada do mês de Março. Com a habitual organização do escritor José Félix, esta antologia, onde participei pela primeira vez, traz-nos à leitura alguns textos dos autores que foram interagindo, no ano de 2009, com a sua escrita (pelo gmail, como é o meu caso) para o endereço na net do grupo Escritas. Neste trabalho vejo-me rodeado de enormes itens da poesia e da escrita em geral, o que me vem satisfazer sobremaneira.

Passo a indicar o nome dos autores participantes, por ordem alfabética:

- Ana Lúcia Merij, Ana Maria Costa, António MR Martins, Basílio Miranda, Clodomir Monteiro, Constantino Alves, David Fernandes, Francisco Coimbra, Geraldes de Carvalho, Gonçalo B. de Sousa, João C. Santos, João S. Martins, Joaquim Evónio, Jorge Vicente, José Dias Egipto, José Félix, José Gil, Manuel C. Amor, Sônia Regina, Walter Cabral de Moura e Xavier Zarco.

Alguém que esteja interessado nesta obra poderá contactar qualquer um dos autores indicados e/ou o organizador deste trabalho, José Félix, para o endereço seguinte: - jonasfel@netcabo.pt

Eventos da Temas Originais para 17 de Abril

Estimado/a Leitor/a,
Em Lisboa: 17 de Abril, pelas 15:00
Apresentação do livro de Poesia

O autor, Hugo Costeira, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de apresentação do livro “Manual da Ilusão” a ter lugar no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, no próximo dia 17 de Abril, pelas 15:00.
Obra e autor serão apresentados por Maria Anadon.

Manual da Ilusão
(Poesia)

Sinopse: "uma compilação de vários textos de ensaio e prosa poética sobre variados temas, desde a felicidade à desilusão, passando pelo amor e pela solidão, caminhando pela vida e pelos vários momentos que vão marcando um percurso ainda não acabado" (da Introdução).


No Porto: 17 de Abril, pelas 16:00
Lançamento do livro de Poesia “Cardio.grafia” de Vera L. T. Santos
A autora, Vera L. T. Santos, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “Cardio.grafia” a ter lugar no Ateneu Comercial do Porto, sito na Rua Passos Manuel, 44, Porto, no próximo dia 17 de Abril, pelas 16:00.
Obra e autor serão apresentados pelo poeta Hugo Milhanas Machado.


Cardio.grafia
(Poesia)

Sinopse: "um livro de paixão por um tu, a que o corpo (tópico que aparece constantemente, como tal ou metonimicamente, através das mãos, da boca, do rosto, dos seios, do peito, dos olhos, do ventre, etc.) se entrega totalmente." (do prefácio, Vítor Oliveira Jorge)

Sobre a Autora: Vera L. T. Santos

Vera L. T. Santos (n. 20 de Abril 1982, Porto). Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (variante de Estudos Portugueses – Ingleses) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tendo a par desta uma Especialização em Gestão e Organização da Formação realizada na Universidade Católica do Porto. Participou, na qualidade de colaboradora eventual, nas revistas Callema, Minguante e na folha de poesia Músculo. Reside, actualmente, na Irlanda.



Em Lisboa: 17 de Abril, pelas 19:00

Lançamento do Romance “O Último Beijo” de Manuela Fonseca

A autora, Manuela Fonseca, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “O Último Beijo” a ter lugar no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, no próximo dia 17 de Abril, pelas 19:00.

Obra e autora serão apresentados pelo escritor Paulo Afonso Ramos.
O Último Beijo
(Romance)

Sinopse: Entre os registos poético e epistolográfico, uma história que nos cativa e que tem como centro o valor da amizade.

Sobre a Autora: Manuela Fonseca

Maria Manuela Félix da Fonseca dos Santos Amaral nasceu a 6 de Março de 1956, em Moscavide. Andou na escola até à frequência do 9º ano, que nunca chegou a terminar, pelas vicissitudes da vida. Começou a despontar para a escrita na adolescência. Mais tarde, em 1986, redigiu o seu 1º poema: "O Meu Alento". Paralelamente, escreveu Histórias Infantis e alguns Textos Humorísticos. De 1988 a 1990, muitos dos seus trabalhos (poesia, prosa e outros textos) foram publicados nos jornais "Correio da Manhã" e "Diário de Notícias". Em 1991, num concurso realizado pela Rádio Comercial, num programa da Filomena Crespo, ganhou o 1º prémio com o texto "2012 – Ano do Tédio ". Foi animadora de uma rádio local, decorria o ano 1992, em dois programas: um de informação e outro virado para a poesia e música portuguesa. Fez um curso livre de Literatura Portuguesa, durante três meses, no ano 1993. Participou em Jogos Florais “Literatura Oral e Conto”, integrados no programa Leitura & Cultura da Fundação Calouste Gulbenkian, onde obteve um diploma de participação. Em Novembro de 2006, realizou um evento cultural de Música, Poesia e Dança, ao qual deu o nome - “No Limiar das Palavras” – uma das suas poesias. Em 13 de Junho de 2007, teve conhecimento do site “Luso Poemas” pela mão da amiga e poetisa Conceição Bernardino. Actualmente, escreve no seu blogue: http://ensaios-poéticos.blogspot.com. E em Setembro de 2007, publicou o seu primeiro e único livro de poesia: “No Limiar das Palavras”.

“Brinco com as letras, nos momentos em que saio de mim, e, volto um pouco mais tarde, para te mostrar onde fui. Depois, sento-me na poltrona do Tempo e, cheia de paciência, ponho-me a olhar... “


Os nossos eventos têm Entrada Livre!
Se puder, apareça!
Se puder, divulgue, s.f.f.

Saiba mais em:
http://www.temas-originais.pt/
Muito Obrigado
Temas Originais
Torre Arnado
Rua João de Ruão, 12 – 1.º, Escrit. 19
3000-229 Coimbra Telef: 239 100 670
Site: www.temas-originais.pt
Blog: http://www.temasoriginais.blogspot.com/

sábado, 10 de abril de 2010

Três poemas do livro "Intermitência dos Sentidos", de Octávio da Cunha



Olhos nos olhos


Com a lágrima escondida no canto,
olhei os teus olhos,
e neles vi…
os teus olhos, lindos e sofridos…
E sei que vi…
nos teus olhos, encanto…
um desencontro sofrido,
o desencontro, com que sempre sofri…
Olhos nos olhos…
olhei os teus olhos,
e neles vi…
os teus olhos, lindos e sofridos…
e sei que vi…
nos teus olhos, o pranto…
lançado dos teus olhos…
chorando… por mim,
pelos meus olhos…
que choram… quando te vêm assim…
E sei que vi…
nos teus olhos, a paixão… as lágrimas escondidas…
as palavras perdidas, na garganta muda…
mas que aos meus olhos, se revelaram…
como gritos de dor, queridos dar.
Mas dos teus olhos, no fim,
saíram as faíscas do Amor,
que acabas-te por revelar.

Olhos nos olhos… sei que vi!

…………

Amor


Já alguma vez sentiste esta dor?
Esta dor…
… sentida no coração?
Esta estranha sensação…
Este incómodo… este bem-estar…?
Este estar, sem estar…
Este sentir, sem sentir…
… flutuar, sem estar…
este estar, sem fluir?
Não!?
Então… nunca amaste…!

…………

Enigma…


Enigma…
Sou um enigma por decifrar,
tenho anátemas por contar…
fúrias por revelar…
segredos secretos contenho…
conservo-os com desdém,
guardo-os, no pensamento,
e sem um lamento…
deito fora a chave do cofre,
de chofre…
… sou um enigma…
até para mim…

…………

Octávio da Cunha

::::::::::::

Octávio da Cunha foi o primeiro autor da Temas Originais (eu o segundo) a ser editado com “A Intermitência dos Sentidos”. Recordo aquele dia 14 de Março de 2009, como uma bela recordação… tratamo-nos de companheiros. O Octávio hoje afastou-se deste mundo das palavras, pôs fim ao seu blogue (onde interagíamos amiudadas vezes) e deixou de publicar textos no site “Luso-Poemas”, local onde cruzámos nossas palavras inúmeras vezes. Diz ele que não está destinado a escrever e não mais vai produzir poesia, pelo menos no sentido de a tornar pública. Tenho um especial carinho pelo Octávio e uma grande admiração, disso já lhe fiz referência. Talvez nos voltemos a encontrar neste, para mim, inolvidável universo da palavra. Todavia aquele dia de Março do ano passado, jamais o esquecerei. Assisti ao lançamento do seu livro (li três dos poemas da sua obra), ele ao do meu e depois jantámos juntos. O Octávio da Cunha escreveu neste “A Intermitência dos Sentidos”, o seu primeiro e único livro, como se estivesse expressando oralmente para com o(a) destinatário(a) das suas palavras, à sua maneira. Um abraço companheiro!...

António MR Martins





Lógica de um ego em L

Ledo
Se deteve
Inconscientemente

Lisura
No processo
Que designou tal fim

Lerdo
O ocaso
Abundantemente

Lírico
O efeito
De quem fica assim

Lateral
A penitência
Da sua insuficiência

Léxico
Desconhecido
Pelo analfabetismo

Lama
Penetrante
De enorme aderência

Louco
Pela infâmia
De todo o realismo

Lira
Na solidão
Desavindo à metáfora

Lua
No sonho
Contido em si

Lesto
Na fuga
Que julga eminente

Leitura
Omitida
Na mesma diáspora

Lúcido
Grava na mente
O que vê ali

Lunático
Porque concluiu
Que também é gente

António MR Martins
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sexta-feira, 9 de abril de 2010

Três poemas do livro "Coimbra ao som da água", de Xavier Zarco




FONTE NOVA



de azul e púrpura se esboça
o cântico dos cântaros

sôfregos

por um fio de prata nascendo
de seu ventre mineral

de azul e púrpura de agapanto
se matiza
o riso das crianças em redor

como gotas de água saltando
de regresso ao regaço
de todos os começos

…………

FONTE DA MADALENA



verão teus olhos madalena
que não outros
o que ninguém jamais verá

como o conchelo
vertical à semente do poema
que conjuga um verbo de água

a ti pleno surgirá
o verbo iluminado
do sol que nasce após morrer


…………


FONTE DAS TORRES DO MONDEGO



Esventra-se a terra
na indagação da jóia. Onde germina,
é a voz da seara subterrânea,
manancial secreto de sonhos,
que nos aclama as mãos, o gesto,
o súbito rodar até à luz.

…………

Xavier Zarco

::::::::::::

Xavier Zarco o poeta, uma referência para mim, tanto pelo que escreve, como pelo que opina. “Coimbra ao som da água” é um hino à poesia e uma homenagem às fontes da cidade de Coimbra e ao encanto da água que nelas corre. Uma obra repleta de ímpar beleza. A essência das fontes da histórica cidade de Coimbra, mesmo para quem mira a Universidade, do lado de Santa Clara, é o coexistir com tudo o que o livro nos faz sonhar, deambular, por vezes, levitar. Depois há o Divino nas metáforas utilizadas que elevam a obra do poeta Xavier Zarco para um patamar único, onde só chegam, ou podem chegar, os predestinados.
É um dos mais belos livros de poesia que já li. Nele sinto as minhas raízes, mas também a possibilidade de escutar aquela melodia, quase celestial, nos naturais percursos da água, na cidade do Mondego.
Obviamente recomendo a leitura de “Coimbra ao som da água”, editada sob a chancela da Temas Originais, por múltiplas vezes.


António MR Martins




Poema dos versos brancos (ou coisas das vidas)

Nas vésperas da decadência
se ultimou a vertigem
e, por lapso ou artimanha,
a minha vida dava um filme!...
Restauros apoteóticos
fazem estalar o verniz
da plena correria
para o palco da vida.
Escolhida a rubra cor
pelo simples sortilégio.
Incorporado no sistema
pelas vivências se deduz:
- Cada vida tem sua história!...


António MR Martins
foto in http://www.ufmg.br/boletim/bol1376/, na net

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A estranha história de Júlio Chuva (excertos), do livro de contos "Para além do tempo", de José Ilídio Torres


“Júlio Chuva devia o apelido ao pai, madeireiro da zona de Vez. Homem corpulento, capaz de com duas machadadas deitar abaixo um pinheiro.”
…………
“Júlio Chuva desde menino que se habituara a que a casa fosse um corrupio de gente, uns amparados aos outros, com pernas e braços estropiados, mais aqueles de olhar esgazeado, rodeados de velhas de xaile preto na cabeça, soturnas e estranhas.
Muitas vezes o rapaz assistiu à expulsão dos demónios dos corpos. E foram tantas as vezes, que isso era já coisa normal na sua vida. Razão do dia se sobrepor à noite e causa.”
............
“Era filho da floresta, de tantas vezes se embrenhar nela para levar o almoço ao pai, ou para o ajudar na lide, logo que os braços se tornaram mais fortes e rijos.
Mas também era filho de Zeza Miranda, e isso viria a revelar-se nele a cada dia da sua vida.
Tudo começou num dia em que sem razão aparente, Júlio, já homem feito, começou a cantar uma canção desconhecida, numa língua completamente estranha, feita quase só de sons nasalados.”
…………
“O mais fantástico, é que era tão suave aquele cantar, e tão prolongado aquele transe, que as pessoas começaram a procurar Júlio para o ouvir sempre que o fenómeno acontecia, como que encantadas, envolvidas nas sonoridades que extraía da alma e que ecoavam pelo vale como nevoeiro musical.
Nem a perspectiva de poderem ser o próximo a descer à terra os demovia. Autênticas peregrinações de gente, faziam o caminho íngreme que conduzia até aquela simpática casa amarela no cimo do monte, para ouvir o cântico do além.”
…………
“Nunca mais foi o mesmo. Fechou-se num silêncio de rezas, sempre junto da mãe, que com o decorrer dos anos foi perdendo visão, até ficar completamente cega e dependente de si.
Viviam os dois numa comunhão plena, deixando também progressivamente de receber pessoas, a cada dia mais donos do seu espaço, que os da aldeia desconfiavam ser o mundo.
Este e o outro.”
…………
“Observou o contraste na face pálida da bela rapariga. Tocou a sua pele para lhe levantar as pálpebras. Juntou o ouvido ao seu peito quente, sentindo um coração em ligeiro bater. Algo como nunca havia experimentado nos seus trinta anos de vida. Era como se aquele coração quisesse cantar com ele a melodia. No tom mais suave de sempre, numa quase escala de sonho.”
…………
“Um puxador abre devagar a porta do quarto, atrás de si uma estranha melodia que ainda ninguém tinha ouvido por aquelas bandas. Era Vera quem a cantava, etérea na sua camisa de linho branco. Os pés descalços.
Todos correram para ela, mas os olhos de Vera pertenciam a Júlio, doces e eternos. E só se desviaram porque este procurou a sua mãe na habitação, encontrando-a recostada na sua cadeira de baloiço, sem vida, mas com um sorriso nos lábios e um cheiro a flores do campo por todo o lado.”
…………
José Ilídio Torres
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José Ilídio Torres oferece-nos mais um delicioso livro de contos “Para além do tempo”, que nos surge sob a chancela da Temas Originais. José um amigo que vou estabelecendo com o decorrer do tempo. Um homem decisivo e empolgante no seu estar, uma proeminência na palavra, alias com as palavras. Elas saem-lhe de todas as maneiras e com elas ele conta-nos as mais belas estórias. Umas humoradas, outras socializadas e muitas outras que nos fazem movimentar tirando-nos do sério questionando o nosso interior. Ele não tem receio de utilizar esta ou aquela palavra, mesmo que com ela possa ferir susceptibilidades, sem ele o querer. Com o José Ilídio Torres nada fica por dizer. É também um poeta. Mas este escritor que no seu anterior livro nos maravilhou com um excelente romance “Diário de Maria Cura”, é, para mim, um extraordinário contista. No entanto, ele é, sobretudo, um homem da palavra (no plural). As palavras, ele as trata por tu e sempre de uma nobre maneira. Aconselho, vivamente, a leitura da sua obra e dos seus textos, com relevância para este seu último título “Para além do tempo”. Leiam-no sem receios, valerá, certamente, a pena…

António MR Martins




"In illo tempore" (latim)



Estes intervalos…

Que medeiam
o momento de um outro…

Se espaçam!

Este tempo
nada tem a ver
com o outro tempo…

Aquele tempo!

E este intervalo
Nunca mais termina!...

António MR Martins
foto in "dicasderoteiro.wordpress.com" - "estrutura-nao-e-sobre-tempo", na net