segunda-feira, 19 de abril de 2010

O livro "Entre as margens da memória" (excerto), o texto "9 Minutos", de Paulo Afonso Ramos - Edições Temas Originais


9 Minutos


Tenho nove minutos para fazer tudo o que me falta. E ainda me falta tudo. Olho para trás e vejo que quase nada fiz. Ou melhor, que tudo quanto fiz foi tão pouco para o que poderia – e deveria – ter feito, que agora, que restam nove minutos, tentarei redimir-me, um pouquinho, de tudo o que ignorei quando pensava que teria todo o tempo do mundo para, a meu belo prazer, fazer as coisas que mais gostaria de fazer. Puro egoísmo.

Quero redimir-me. Quero, mas não consigo. Quero que as palavras possam correr pelos corações, que possam saciar a sede dos que precisam de água e que possam alimentar as barrigas esfomeadas que, por este mundo, se escondem ou que aparecem num nítido pedido de ajuda. Que as palavras, tudo o que ainda tenho, possam trazer a paz.

9 Minutos. Que não pararam, que fugiram de mim como na vida tudo fugiu e em que nada mudou. Lamento que as mentes, como a minha, só acordem para a vida quando já é tarde demais, quando já nada podem fazer e depois, em parcos minutos, queiram fazer tudo o que, numa vida inteira, ignoraram. Lamento e penitencio-me por ser igual a todos, por olhar para o outro lado. Lamento profundamente embora de nada adiante. E agora, que escolhi. E não foi por falta de avisos, de conselhos e de vontades que o escolhi. Foi porque só pensei em mim e no momento que vivia quando escolhi cada passo, quando tomei cada decisão e nada mais.
E nos meus últimos segundos, se escolher pudesse, gostaria de usar as seguintes palavras, sabendo de que, com elas, me afasto:

Perdoem. Amem. Uni-vos. Libertem-se. Olhem em redor.

Esgotou-se-me o tempo e nada fiz.

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Paulo Afonso Ramos

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“Entre as margens da memória”, um excelente livro de prosa poética da autoria de Paulo Afonso Ramos (um amigo), editado sob a chancela da Temas Originais. Para mim, não é o seu melhor livro (“Mínimos Instantes”, está nesse patamar, pelo menos segundo a minha óptica de singelo leitor) mas tem diversos textos de enorme qualidade, de onde saliento, para além do ora aqui publicado, Diz-me, Embarco na liberdade dos nossos sonhos e Traz-me de volta o meu sorriso, isto, para além de outros. O Paulo é um poeta, um escritor, que ama a palavra e vive com todas elas, em todos os momentos, as palavras são uma das saliências do seu gosto pela vida. Tem sido uma referência, para mim, foi o grande incentivador e impulsionador para que o meu primeiro livro tivesse vida. Portanto não posso emitir opinião só sobre o autor de qualidade, que o é, mas também o devo fazer pela amizade, que vai ganhando fortes alicerces, entre nós.
Um facto é relevante nesta breve alusão a este seu livro “Entre as margens da memória”, é uma obra de grande qualidade, que nos faz sonhar, meditar e bastas vezes nos leva a concluir que nós, como seres humanos, que o somos, nunca fazemos o bastante para cumprir o nosso verdadeiro papel terreno, e quando um dia isso verificamos, torna-se, efectivamente, tarde para fundamentar esse incumprimento.
Para finalizar esta pequena referência sobre esta obra de Paulo Afonso Ramos, passo a transcrever o primeiro parágrafo da respectiva Nota Introdutória, da sua própria autoria: “O corpo segue o que a mente manda. Há, portanto, uma força motriz que gere o nosso Universo, num nosso que é, de facto, o de cada um, em exclusivo.”.

Quanto ao livro, propriamente dito, façam o favor de o ler.

António MR Martins


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