Na velha casa a parede do silêncio absorve os sons inaudíveis. A sombra das árvores resta lá fora à espera de um novo tempo. A memória estende-se no soalho inerte e vazio. O pó é um dos poucos habitantes daquele espaço. As rachas se ramificam em desenhos semelhantes aos das veias sanguíneas nas paredes da sua dimensão. As teias de aranha também lá moram. Há o gemido do postigo da velha janela donde se avistava uma bela paisagem sobre o rio que passava à sua frente. Agora a vegetação crescida sem mordaça nada deixa ver para além do que dela se encerra. O cheiro a bafio sustenta o aroma que ora ali se respira. As ervas já crescem nas prumadas e no telhado até silvas germinam. A ousadia da memória tudo tenta recordar em brancas eloquências. Apenas a saudade resta do tempo que ali já não existe.
António MR Martins
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