Até no carro te canto,
Fala a fala, seio a seio,
Espantado de um encanto
Que mais parece receio
De te perder à partida
Pra te ganhar à chegada,
Pois tu és a minha vida
Na ida e volta arriscada.
Vai o Godinho ao volante
Com seu ar de conde antigo
Que bem sabe o amor constante
Que me aparelha contigo.
Poupado na gasolina,
Discreto na confidência,
Navegador à bolina
Dos rumos da nossa ausência.
Leva-me à Embaixada, ao almoço:
Travou, mas não sei que tenho:
Um resto de ardor de moço
Contigo no meu canhenho.
Vitorino Nemésio, in "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga"
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