terça-feira, 17 de maio de 2011

inferno

na suave asa do grito reflecte-se o lume
comestível do tempo - a mão transformada
em polvo sacode a erva seca no sangue
da manhã

eis o mundo feérico das feridas incuráveis
o inferno
mesmo quando dormes gemes abandonado
ao estertor da chuva na vidraça e ao vento
que dança na persiana

não saberás nunca da tua metamorfose
em pantera aérea - vou proibir que te passeies
por cima dos sentimentos e dos móveis

e que te vingues
do hábil sedutor de feras

Al Berto, in livro "Horto de Incêndio", página 20, edições Assírio & Alvim

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