quinta-feira, 19 de março de 2015

Fernando Pessoa





[CONTEMPLO…]

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo.
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trémulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?

Fernando Pessoa (1988-1935),  in “Poesias”, página 122, da Colecção Poesia, Obras Completas de Fernando Pessoa, Edições Ática, Janeiro de 1997.

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