quinta-feira, 28 de maio de 2015

Dia 31 de Maio na Casa dos Pescadores, Costa de Lavos

 
Vou estar no próximo dia 31 de Maio na Casa dos Pescadores, na Costa de Lavos, com amigos, com a poesia e com muita gente boa. Se quiserem e puderem... apareçam!

 
 
No próximo dia 31 de maio vamos ter mais um dia de poesia na Casa! António MR Martins, Diogo Xavier, Lurdes Breda, Madalena Oliveira, Rui Figueiredo e Rosa Maria são os nossos poetas convidados. Contamos ainda com a participação especial de Bárbara Correia e dos alunos da EB1 da Costa de Lavos. Esperamos por si!

Ana Paula Mabrouk





(desejando bom e rápido restabelecimento!... força!)

tentação

não sei resistir
nem quero

trago o teu gosto
colado à pele
e quando não estás
sonho-te a toda a hora
respiro-te a cada segundo
tenho-te em mim
alter-ego que nunca dispo

és ânsia desmedida
queimando até ao ínfimo
corroendo as vísceras
dilacerando as veias

pujante
converges em mim
e eu em ti
me transfiguro

Ana Paula Mabrouk, in “Paixão em 5 atos”, página 40, edições Versbrava, Junho de 2013.

Libertar poético


Imagem da net, em: www.codimuc.com.br




Na poesia
Busco o sentido das coisas
A razão que me assiste
Mesmo que não a encontre

A palavra
É a forma e o meio
Que suscita a invenção
Mesmo que o resultado seja imperfeito

É como as folhas
Que nascem e caem das árvores
Diferentes a cada ano

Tenho na poesia
E em cada seu verso
O sentido do meu caminhar
O meu interior libertar
Nesta continuidade poética

 
António MR Martins

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Florbela Espanca





Em vão

Passo triste na vida e triste sou,
Um pobre a quem jamais quiseram bem!
Um caminhante exausto que passou,
Que não diz onde vai nem donde vem.

Ah! Sem piedade, a rir, tanto desdém
A flor da minha boca desdenhou!
Solitário convento onde ninguém
A silenciosa cela procurou!

E eu quero bem a tudo, a toda a gente...
Ando a amar assim, perdidamente,
A acalentar o mundo nos meus braços!

E tem passado, em vão, a mocidade
Sem que no meu caminho uma saudade
Abra em flores a sombra dos meus passos!

Florbela Espanca (1894-1930), in “Sonetos”, página 172, edições Livros de bolso Europa-América, 4.ª edição, 1995.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Como decorre o meu projecto "De Soslaio", na plataforma PPL crowdfunding, até 22 de Maio, pelas 18H00


Meu novo livro "De Soslaio", que não é de poesia, em projecto com a PPL. APOIEM !!!


Caros amigos, venho perguntar-vos se querem pré-adquirir o meu próximo livro “De Soslaio”, o primeiro não de poesia, fazendo a sua pré-reserva no endereço, “link”, abaixo.
É um meu projecto na PPL, onde poderão fazer a vossa pré-reserva, transferindo o valor respectivo (10 euros ou 12 euros se for para o estrangeiro) de uma das formas que lhes for indicado. Também poderão fazê-lo por Multibanco, aí terão de me indicar essa intenção, para que o PPL possa activar as respectivas referências, para o efeito (indicando-me o vosso mail).
  Podem também colaborar, apenas, com a quantia que puderem, ou desejarem, ou, ainda, adquirirem um ou mais textos do livro, devidamente autografados, segundo as ...
possibilidades indicadas no projecto/PPL.
Entrem no endereço abaixo e leiam sobre todas as hipóteses com que podem colaborar na campanha deste meu novo projecto.
Agradeço, desde já, a vossa atenção.
Meu abraço.
 
António MR Martins




http://ppl.com.pt/pt/prj/de-soslaio?utm_medium=PANTHEON_STRIPPED&utm_source=PANTHEON_STRIPPED&utm_campaign=PANTHEON_STRIPPED

Maria José Saraiva





ABRO AS JANELAS DOS OLHOS
E CONTEMPLO A VIDA


Há intempéries suspensas dentro de mim. Olho o horizonte e nada vejo que me acorde da indolência em que me invento e refugio-me nos versos que te fiz! Caminho, sozinha, comigo mesma neste labirinto clandestino e oculto. Envolvo-me no cortinado dos meus desejos e sinto pegadas distantes de tristeza. Apago a labareda escaldante deste minuto de loucura que me debilita e caminho envolvida num silêncio tácito. Há súplicas de assombro que ressoam ao redor de mim, sinto-as mas não as ouço, nem as vejo, os sonhos, esses que esbocei no anil celestial foram extintos pelas nuvens e pelo astro-rei ao entardecer da tarde. De repente, sinto, e tudo me desperta, “sou lírio branco em Campo Santo”… E sinto a chaga aberta, fechar devagarinho. Abro as janelas dos olhos e contemplo a vida que floriu de novo e me envolve num manto de alegria, que solenemente mandou a tristeza e a saudade “à fava até que a ervilha encha”!...

Maria José Saraiva, in “Ecos da Alma”, página 52, edições Modocromia, Novembro, 2014.  

Respostas perdidas





Queria perguntar-Te do sossego azul
entre céus, mares e marés da vida,
contingências entre o norte e o sul
p’la chegada da origem permitida.

Queria perguntar-Te das nuvens brancas
da côr da pomba símbolo da paz,
das pernas tortas, doridas ou mancas
de tudo o que viveu e agora jaz.

Queria perguntar-Te coisas que não digo
meandros dos sonhos de mel ou perigo,
que extrapolam vivências invisíveis.

Assim perpetuando o nada que tenho
buscando perspicácia ou empenho
perante coisas mundanas e risíveis.

António MR Martins

sábado, 16 de maio de 2015

António Gedeão





Lição sobre a água

Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.

É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, ácidos, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.

António Gedeão (1906-1997), in “Poemas Escolhidos”, antologia organizada pelo autor, página 62, Edições João Sá da Costa, Lda., 7ª. Edição, Janeiro de 2001.

sábado, 9 de maio de 2015

Prates Miguel




POEMAPARO

Palavra anã não faz poema gigante
seja ela Virgem, Leão, Caranguejo ou Sagitário
Capricórnio, Touro, Balança ou Aquário
palavra baça não faz poema brilhante.

Palavra desdentada não morde
palavra mansa só reage quando calha
palavra ociosa não mexe uma palha
para que o poema desassossegue e acorde.

Sem mensagem, a palavra nada vale
palavra manca não corre nem flui
e a palavra muda não contribui
para que o poema gagueje e fale.

Palavra exacta faz o poema claro
com palavras à toa o poema é verbo-de-encher
sem palavras cuidadas na ponta do aparo
é inútil arengar. É escusado escrever.

Prates Miguel, in “ PoeMAnel”, página 16, Folheto Edições & Design, Leiria, 2013.     

Caminho livre com a poesia





Nada de palavras amordaçadas
banidas e maltratadas

nada de versos adormecidos
esfumados ou retalhados

nada de apatias
acomodações e inibições

libertemos as palavras
e soltemos sua voz ao vento
nas páginas da vida
e façamo-las mensageiras
do mundo

com elas combateremos
as opressões e as incúrias
as repressões e os ultrajes

façamos da liberdade poética
a nossa arma

viva o Ar Puro
viva a Verdade
viva a Poesia
viva a Liberdade !!!

António MR Martins

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Eugénio de Andrade






[Não chegarás nunca a dizer]

Não chegarás nunca a dizer
como brilham lentas as maçãs
os gatos se demoram nos joelhos
sem liberdade crescem as crianças

Esta noite iremos pela tarde
até às dunas
vai chover talvez a terra fique limpa
escreverei como as crianças brilham

Eugénio de Andrade (1923-2005), in “Limiar dos Pássaros”, página 35, edições Assírio & Alvim, Herdeiros de Eugénio de Andrade, prefácio de Pedro Eiras, 1.ª Edição, Outubro de 2014. 

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Vítor Cintra





POMBAL

Primeiro foste castro, bem antigo,
Que Roma transformou em fortaleza.
Depois um templo godo, convertido
P’los mouros, em muralha de defesa.

Mas quando Afonso Henriques conquistou
As terras, deu à Ordem dos Templários
Mandato e Gualdim Pais edificou
Castelo, nos seus modos já lendários.

E, quando pelo Papa foi extinta
A Ordem conservou-te, mas distinta
No nome, por acção de Dom Dinis.

Jamais tu conheceste uma derrota,
Nem quando aconteceu Aljubarrota,
Fiel a Dom João Mestre d’Avis.

Vítor Cintra, in “Na Senda dos Templários”, página 26, edições Lua de Marfim, Fevereiro de 2015.

Dedicatória à saudade





Vesti a saudade de seda pura
bordando-a de sorrisos e alegria,
afaguei-a em festas de ternura
dedicando-lhe uma doce melodia.

Inventei-lhe versos de nostalgia
perante anseios incomparáveis,
destinei-lhe a segunda melodia
repleta de palavras adoráveis.

Ecoaram sons belos, diferentes
de tantos até agora escutados,
mesmo pelos cérebros mais dementes.

Canção com versos desigualados
pelos criadores inteligentes,
que da saudade fizeram seus fados!...

 
António MR Martins

terça-feira, 5 de maio de 2015

Augusto Gil





A gota de água

A lágrima triste
Que por ti surgiu
Mal que tu a viste,
Quase se não viu…

Como quem desiste,
Logo se deliu…
E, mal lhe sorriste,
Logo te sorriu!

Já não era a dor,
O sinal aflito
Duma funda mágoa;

Era o infinito,
- O infinito amor,
Numa gota de água.

Augusto Gil (1873-1929), in “Avena Rústica”, páginas 125 e 126, edições Livraria Guimarães & C.ª

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Maria Afonso





X (de: “Dizeres de mim”)

Eu gosto mais do vento
Do vento norte que anuncia a mudança.
Do vento feito sopro de brisa azul serena.
Eu gosto mais do vento forte, que me empurra,
Poderoso, quando se interpõe entre mim e o mundo.
Eu gosto mais do vento nas carícias às folhas dos plátanos
Eu gosto mais do vento quando se converte e mão
Que despenteia os cabelos.
Eu gosto mais do vento
Daquele que faz girar as nuvens e abre o céu
Daquele que aproxima as estrelas.
Eu gosto mais do vento que refresca os olhares
Que sibila ao ouvido e me faz dançar, rodopiar
Eu gosto mais do vento que me permite planar
Dentro dos meus sonhos.
Daquele que faz esvoaçar as folhas brancas
E me faz correr pelas emoções feitas imagens
Feitas poesia.
É. Eu gosto mais do vento!

Maria Afonso, in “Asa de Azul” (Com nota introdutória de Lusitana Ricardo), páginas 13 e 14, em o fio da memória 111, colecção de cadernos da Câmara Municipal da Guarda, Dezembro de 2012.

Paralelismos naturais





Velha folha da árvore esquecida
que renasces a cada primavera,
multiplicada por tantas és guarida…
por entre o soluçar da quimera.

Verdura suspensa ao sol e vento
com a seiva revigorada na chuva;
causa fugaz sem prévio fundamento
no desenlace em poças de água turva.

Fasquia superada pela natureza
ante as novas folhas da incerteza,
rico condimento da nova estação.

Viçoso nascer ou secura da morte,
vínculo pendente na raiz da sorte…
surpresa no campo da plena razão.

António MR Martins

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Sophia de Mello Breyner Andresen





JARDIM PERDIDO

Jardim em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe,
Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão.

A verdura das árvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava,
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.

A luz trazia em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidade e suspensão.

Mas cada gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), in “Poesia” (Obra Poética) edição definitiva, página 41, edições Caminho, Novembro de 2003.