ABRO AS JANELAS DOS OLHOS
E CONTEMPLO A VIDA
Há intempéries suspensas dentro de mim. Olho o
horizonte e nada vejo que me acorde da indolência em que me invento e
refugio-me nos versos que te fiz! Caminho, sozinha, comigo mesma neste
labirinto clandestino e oculto. Envolvo-me no cortinado dos meus desejos e
sinto pegadas distantes de tristeza. Apago a labareda escaldante deste minuto
de loucura que me debilita e caminho envolvida num silêncio tácito. Há súplicas
de assombro que ressoam ao redor de mim, sinto-as mas não as ouço, nem as vejo,
os sonhos, esses que esbocei no anil celestial foram extintos pelas nuvens e pelo
astro-rei ao entardecer da tarde. De repente, sinto, e tudo me desperta, “sou
lírio branco em Campo Santo”… E sinto a chaga aberta, fechar devagarinho. Abro
as janelas dos olhos e contemplo a vida que floriu de novo e me envolve num
manto de alegria, que solenemente mandou a tristeza e a saudade “à fava até que
a ervilha encha”!...
Maria José Saraiva, in “Ecos da Alma”, página 52, edições Modocromia,
Novembro, 2014.
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