terça-feira, 20 de outubro de 2015

Licínia Quitério





46.

Subíamos os degraus da paixão
a esconjurar demónios de viagem,
a conjugar passados com futuros.
Tempo de brincar com palavras carnívoras –
sexo, gengibre, estandarte – ou palavras
de seda – abraço, infinito, teorema.
Às vezes era o sol que nos vestia de ouropel
e apagava o rasto dos chacais.
As mãos pousadas em redes de silêncio,
tecíamos pontes sobre o tédio.
Antes de sabermos a medida do frio,
quando se extingue a brasa e as flores de gelo
descem, exangues, a vertical das noites.
Antes do bolor nas paredes.

Licínia Quitério, in “Os Sítios”, página 69, edição de autor, Novembro de 2012.  

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