segunda-feira, 5 de outubro de 2015

infinita envolvência


A sesta, de José Malhoa (1855-1933) - 1909.



e as pálpebras cansadas se estendiam
sobre as vistas pendentes do próximo abraço
intimista.

as folhas abotoavam os ramos cruzados
da árvore, que permanecia estática, localmente,
mas ondulante ao fruir do vento.

a paisagem incólume
ali permanecia.

ao fundo
algumas aves ondulavam, também,
pareciam quase tocar o céu
em movimentos voadores que
pareciam ensaiados.

o ambiente bucólico estendia-se
até que a margem que as pálpebras deixavam livre
pudesse gravar no íntimo do seu dono,
corpo também cansado
sentado à porta daquela casa velha,
aquelas imagens únicas.

tantas histórias, tantos anos, meses , horas,
tanta envolvência esquecida
que aquele ser reservava, unicamente, para si.

as aves ao longe já lá não moravam,
mas a árvore ali permanecia
desabotoando ramos numa empatia única
com aquele espaço tão belo.

por fim
as pálpebras não estavam mais cansadas
o corpo sentado à porta da casa velha,
também não,
o silêncio era imparável,
mas a árvore fez brotar flores dos ramos
da sua vida.

António MR Martins

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