domingo, 18 de novembro de 2018

Alvaro Giesta


Alvaro Giesta, imagem da net.





No tempo desabitado


- ao Homem, que um dia perdeu a Luz


Quando morrermos entenderão, afinal,
que em nós havia vida:
- aqueles que nunca beijaram em algum dia
a margem do lago onde ficámos parados
e tolhidos,

ou que nunca conheceram o dentro
dessa claríssima rua
onde, tantas vezes perdidos,
rumaram sem destino a qualquer sol
sem lua;

- aqueles que nunca descobriram os lábios
da terra que lhes deu o ser
nem a espuma branca sem mar, nem o sal
nem a fome, nem o frio de sofrer,

ou que nunca conheceram a luz
mesmo quando a luz negada
se nega a iluminar a vontade e o querer.

Nesses persiste a sua teimosia cega
a refugiar-se
num silêncio mudo de dizer.

Alvaro Giesta, in “O Sereno Fluir das Coisas”, página 65, Colecção Poiesis III, coordenação de João Dordio, edições In-Finita, Outubro 2018.

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