domingo, 16 de agosto de 2009

#07



tenho fome de silêncios.




sobe lenta a minha morte, do lado de fora da janela, à espera. às vezes penso que nunca existirão palavras suficientes para te matar deveras. às vezes penso que me são reveladas palavras pela primeira vez, entupidas de silêncio, elas próprias criadas da segunda costela do meu desespero. estás em retrocesso e creio ser essa a tua última morada. quero escrever-te qualquer coisa breve, qualquer coisa que não nos consuma como nos consome o tempo, ou o espaço atrás dele. delicadamente perco o rumo a esta vida, tão curta como a tua, tão vadia, que se desprende em gotas pelos poros como o orvalho de madrugada a pender nas folhas. bem te disse que fomos criados por um adeus sem acenos, somos frutos da mesma estação, estamos podres. quisera hoje roubar-me o passado e enforcá-lo na galha desta saudade, quisera hoje matá-lo, repetidamente, até o ouvir chorar o teu nome como da primeira vez. repito: sobe lenta a minha morte, do lado de fora da janela, à espera.

Margarete da Silva "Mar"

3 comentários:

Luis Ferreira disse...

As tuas palavras respiram sentimentos e harmonia

Parabens

Luis

mar disse...

obrigada antónio*

António MR Martins disse...

Mar,

Não tem de agradecer. Eu, sim, tenho...pois a inclusão de um texto seu neste blogue proporciona o aumentar de qualidade.

Obrigado.
Beijinho

António MR Martins