quinta-feira, 25 de março de 2010

Vestido Vermelho (excertos), do livro "Traços do Destino e outros contos", de Vera Sousa Silva


“Teresa abriu os olhos e tentou mexer-se. Estava com pressa. Dentro de pouco tempo Paulo chegava e tinham combinado uma noite romântica para comemorar os dois anos de casados.
Lembrava-se que tinha estado a tomar banho e, que, ao sair da banheira, tinha escorregado e caído. Agora tentava desesperadamente levantar-se, mas o seu corpo não obedecia a nenhum gesto que tentasse.”
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“Imaginava o sorriso guloso do marido quando lhe dissesse, em pleno restaurante, que não tinha nada por baixo. Era uma fantasia dele e que ela hoje, depois de dois anos de um casamento muito feliz, lhe queria realizar, para assinalar a data da perfeição.”
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“Pobre Paulo… Devia estar a chegar! Ansiava agora que ele se despachasse, desse ali com ela naquele estado, e fizesse alguma coisa para tudo voltar ao normal, para irem jantar fora, comemorar aquele dia tão importante para eles, e esquecer aqueles momentos que lhe pareciam tão negros, tão trágicos.”
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“Ouviu o marido sair de junto dela, e, pelo ruído, pareceu-lhe que estaria ao telefone, entre choro e palavras quase imperceptíveis. Percebeu que estava a chamar ajuda. Mas ajuda para quê? Só precisava que ele a levantasse dali. E tinha frio, muito frio…”
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“Só queria conseguir mexer-se! Conseguir dizer alguma coisa, fazer algum gesto que aliviasse aquele sofrimento a Paulo. Mas tinha a certeza que, aquelas mãos experientes que lhe tocaram, iriam solucionar o problema agora. Talvez já não pudessem ir jantar fora, talvez até tivesse que ir ao hospital fazer alguns exames, mas estaria junto do marido e isso era o mais importante agora.”
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“Nunca fora mulher de pensar na morte. Era um daqueles assuntos de que não gostava sequer falar. Sabia que, um dia, haveria de morrer. Ela e Paulo. Mas sempre se imaginou ao lado do marido, cheia de filhos, de netos, com uma família enorme em casa e eles dois, amando-se sempre muito, velhinhos e felizes.”
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“Quando o relógio tocou, às sete em ponto, levantaram-se e, enquanto tomavam o pequeno-almoço juntos, Teresa disse ao marido que, ao contrário do que tinham combinado, não sairia mais cedo do trabalho para se vir arranjar a casa.
Iria já pronta e, quando ele saísse do escritório, visto que saía meia hora antes do marido, estaria à porta à sua espera.”
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“A voz de Teresa, rindo ali, no meio do passeio, trouxe-lhe uma paz absoluta naquele instante. Era agora a vez dele a beijar, por cada minuto que o fizera esperar naquela angústia, sem notícias dela.
- Desculpa o atraso amor. Apanhei uma fila enorme e ainda parei na ourivesaria.
Passou-lhe um embrulho para a mão. Paulo abriu, sorrindo, e deparou-se com o relógio que andava a namorar há meses.
Entregou o saco a Teresa, que abriu curiosa. Estranhamente o seu semblante mudou. Lá dentro um vestido. Vermelho, cor de sangue, com um decote profundo. Igualzinho ao do seu sonho…”
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Vera Sousa Silva

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Vera Sousa Silva, uma poetisa e escritora, que muito admiro, lançou o seu livro “ Traços do Destino e outros contos”, em simultâneo com o lançamento do meu livro de poesia “Quase do Feminino”, os dois sob a chancela da Temas Originais, a 28 de Novembro, passado, no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa.
É um livro excelente com contos contemporâneos de encantar, pela sua escrita. Há de tudo um pouco nesta sua obra, amor ciúme, raiva, suspense, ódio, carinho, amizade, traição, tudo situações do imaginário (algumas inspiradas em situações verdadeiras), mas possíveis no nosso quotidiano. É um livro que recomendo na íntegra.
Espero que os tópicos ora publicados, neste meu blogue, do conto “Vestido Vermelho” (constante do conteúdo do livro), apelem à vossa curiosidade no sentido de quererem ler a obra no seu todo. Podem crer, vai valer a pena…






3 comentários:

Unknown disse...

Foi uma honra e um prazer enorme ter lançado o "Traços do Destino" juntamente com o teu "Quase do Feminino", que recomendo vivamente.
Sabes da admiração e do orgulho que te tenho, meu querido amigo!

Um beijo enorme e Obrigada :)

Lamartine DIas disse...

Já tenho o livro. Tenciono ler quando a ocasião for melhor. Parabéns pela versatilidade na escrita tanto em poesia como em prosa.

Anónimo disse...

O livro muito bom...e poetisa que muito admiro também!!!
Beijocas