domingo, 31 de outubro de 2010

Chovem teus olhos fechados


Hoje subi aos céus,
águia de asas empenadas
pelo tempo da espera.
Hoje, porque chovia
a tua imagem no meu peito.

Cruzei-me com os ventos
que traziam os nossos momentos,
nos braços,
crianças órfãs
de duas aves que não têm chão
onde poisar.
Cruzei-me com os desejos
que ficaram no ar enquanto te lia.
Cruzei-me com o calor,
que recordava, do teu corpo enquanto poesia.

Hoje subi aos céus
de peito aberto para amar,
numa esperança, um tanto louca…
….de te encontrar.

Chove a chuva, chove o desejo, chove o tempo…
... chovem teus olhos fechados, no meu pensamento.

Vanda Paz

Palavra perdida

“Plágio ou morro agora”

Morro agora
Com a palavra que não foi escrita

Morro do nada
De uma morte não anunciada
Mas avisada

Morro temente
Pela palavra que não foi dita

Morro de morte abismada
Por ser prenunciada
Sem ter sido editada

Morro da morte que demora
Tal como a palavra se aflora

Mas não morro
De morte morrida

Não morro de efémera ferida

Morro da vida
Pela palavra que não foi definida
No mesmo sítio
Onde a palavra se encontra perdida

António MR Martins


Dedicado ao escritor e poeta amigo José Ilídio Torres, que morre inúmeras vezes pelo renascer da palavra
------------
imagem in http://coisasque-euvi.blogspot.com/ (na net)

sábado, 30 de outubro de 2010

Roubaram a palavra pela calada

Roubaram a palavra pela calada
Meteram-na num saco de juta
Venderam-na quase d'enfiada
A um qualquer filho da puta

Vestiam-se de pantomineiros
Havia gente da política disfarçada
Todos queriam trinta dinheiros
Pela liberdade que nos foi roubada

Os dias ficaram sem ela banais
Não podiam agora ser escritos
Os começos órfãos dos finais

Que por não poderem ser ditos
E lhes sobrarem dias iguais
Andavam os deuses quase aflitos

José Ilídio Torres

in livro " Os poemas não se servem frios" (página 6), edições Temas Originais

Urge suprir dificuldades

Nessa esperança mungida
à luz vindoura, germinada,
onde desponta uma saída
para o reencontro da estrada.

Alimento de qualquer ego,
ansioso por boas novas…
a esse sortilégio me apego,
cantando as minhas trovas.

Regurgitar as incoerências
não nos leva a ponto algum.
Onde caminham as essências?

Reneguem-se as prepotências,
um por todos e todos por um,
definam assim as competências!...


António MR Martins

imagem in Fotosearch Banco de imagens - RF Royalty Free (na net)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

os cascos da D. Certinha


é fácil ver isto, ela tem cascos em vez de mãos e pés,
é fácil ver isto, os passos dela são certos na calçada,
é fácil, ter que a ver, lá isso é.

mais fácil ainda é comer da sua carne, é barata e acessível - no meu talho as costeletas estão com promoção.
todos dizem: que emoção! eu quero o seu coração!
Eu a sua mão!

Santos Almeida

A fuga do único prazer

Entoaram melodias
Em vozes de desencanto

Recorreram a feitiçarias
Para desanuviar o seu pranto

Foram trazidas à tona
As imagens já esquecidas

E o ser que já ressona
Vê-as às escondidas

É tempo de restaurar
Os campos do seu bem-estar

Pela chuva que neles cai
O seu sonho assim se esvai

Acordado do desalento
Busca então outro lugar

Na razão daquele momento
Onde se sente alagar

Já todas as melodias
Decidiram abalar

Ficou uma única música
Que não nos consegue alegrar

António MR Martins

Imagem in http://www.baixaki.com.br/ - Um dia de chuva em Paris.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um Sol de Meias-Luas

Na selva densa da minha solidão
Vejo-me nua, sem eira nem beira
Sou ilha deserta, mas mulher inteira
Submersa nas águas da desilusão

Soletro nomes que me vêm à mente
Na busca constante da identidade
Contra a amnésia procuro a verdade
Esqueci o passado vivo no presente

Vagueio sem memórias até me encontrar
Que espécie serei, mulher sem idade?
Ou poeta que vive sempre a sonhar?

Visto de alvoradas e versos de amor
Em mim um sol de meias-luas
Quem sabe o meu nome não é Leonor?

Fernanda Esteves

in livro "4 Folhas de 1 mesmo Trevo", edições Temas Originais

Nota: Este é um romance que retrata factos de vidas, talvez fictícios, talvez não. Todavia há uma Leonor no seu conteúdo. Quem será ela? Há também poesia nesta obra, plena se sentires e sentimentos. Este é um livro que recomendo à leitura.

Quem se lixa é o mexilhão

Se amedrontam os incapazes
Pelas capazes formas

Se não toleram os eficazes
Pelas ineficazes normas

Se remendam os conceitos
Mesmo cheios de defeitos

Se imitam todos os jeitos
Como se fossem perfeitos

Se ultrajam os valores
Sem quaisquer pudores

Se rasgam cobertores
Esquecendo os seus amores

Se omitem as verdades
Em todas as realidades

Se enfurecem os doutores
Que depois levam louvores

Se esganam os perdidos
Por terem sido substituídos

Se esmeram os infractores
Por não se sentirem devedores

Os outros
Pagam tudo
Para não terem dissabores


António MR Martins

imagem in SoFood, RF Royalty Free, na net

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tu, não és ela mãe

…E depois, mãe, fui descobrindo
Que já não eras tu que eu sabia
Nem eras ela
Aquela que nunca amei
Perdi-me...

Reli as tuas cartas, mãe
Como um manual feito em liberdade
Num quarto esculpido
De sombras obrigatórias
Despido de luares

Não és tu, mãe, eu sei...

Mas os teus queixumes
Os teus receios
As tuas lágrimas
Que me caíam no rosto
Cercadas de prenúncios
Com quem ainda me cruzo
Afrontam-me a tua memória

Tu não és ela, mãe...

Vou deixar o sossego do tempo
Secar as lágrimas que ainda alimento

Manuela Fonseca

Meu poema, publicado na edição do jornal "Hoje Macau", de 27 de Outubro de 2010

Na edição nº. 2238 do jornal "Hoje Macau", na rubrica Raio [X] (na habitual página 13), foi publicado o meu terceiro poema neste diário macaense, em língua portuguesa.



sexta-feira, 22 de outubro de 2010

ODE

Escrevem os pés
quando andam
pelo asfalto

árvores escondidas
entre o betão choram
lágrimas festivas

silêncio não existente
é atingido
por uma flecha
cristalizada

a vida encontra
por
alguns minutos
a resposta para
a avisada morte
e
os pés sorriem
por terem encontrado
outra finalidade

Maria do Rosário Loures

in livro "Atlantikblau und Olivengrün" (Do Atlântico Azul ao Verde das Oliveiras), edição bilingue, com a chancela Edium Editores

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Mais um meu poema publicado no jornal macaense "Hoje Macau"

Mais um poema meu foi publicado no jornal macaense "Hoje Macau", na sua rubrica Raio [X], na habitual página 13. Foi na edição nº. 2231, de 18 de Outubro de 2010.
Mais um grato momento.



sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A razão do tempo...

O tempo!!! O que é o tempo?
Será que é eternidade,
ou apenas um momento
pequeno sem ter idade...

O tempo é como o vento,
passa em sua velocidade...
Para quem não estiver atento,
se perde na imensidade...

São momentos sucessivos,
de modéstia ou de vaidade,
de dor ou de felicidade...

Sentimentos permissivos,
que em sua sucessão
fazem do tempo a razão...

António Boavida Pinheiro

in livro "Poemas ao correr da pena...", edições Temas Originais

beirais

o grão
que a asa
culmina
se vislumbra
na ave

cantada pelo bico
a melodia
temperadora

um cismar
esvoaçante
que nesse voar
se grave

num voo
sem adoçante

António MR Martins

imagem in http://www.barrento.com/ (Andorinha-dos-beirais), na net

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Heth

Jerusalém despida,
a prostituta que serve e suspira,

é desprezada pelos que a honraram
com as mãos lúbricas
e públicas carícias.

Abre as coxas cidade instável!
Que o aloendro arome e o mel escorra
em todos os que te tocam.

Jacob Kruz

in livro "Breviário Lamentoso", edições Temas Originais

helicópteros

pela hélice
do helicóptero
se desvanece o perdido

voam os desperdícios
pela aterragem soberba

as aves
se afastam
num assustado voo

todo
o resto fica
em permanência

ao levantar voo
sucede o inverso

mas nada fica
como antes

António MR Martins

imagem in http://galeria.wintech.com.pt/ (na net)

Flores do Silêncio

Diante de tantos silêncios
Brotou no meio do meu peito
Um pé fresco de saudades
Semeado de um verso mudo
Que sem querer você plantou...

Na ausência de poemas
Aproveitei as lágrimas
Com elas molhei a argila
Fiz uma coroa marrom
Para as flores das saudades.

Betha M. Costa

Inalcançável espera

Há um pedaço de mim,
perdido na amargura do quotidiano.

Um estado de não sentir…
os traumas que me invadem o ânimo.

Há a razão que não se entende
neste intrépido reboliço do meditar.

Um raiar diferente, do comum,
neste desconsolo tornado tão presente.

Há um ponto de luz…
do qual não encontro o paradeiro.

Um passo jamais dado,
na paragem de todos os sentidos.

Há a esperança!… A esperança?…
mas essa há sempre…
na existência de cada ser humano.

Só que,
muitas vezes,
não se consegue alcançar!...


António MR Martins

imagem in WestEnd61, RF Royalty Free, na net

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

FRAGMENTOS DE MIM - A MENDIGA

A MENDIGA

Me entristeceu,
Aquela linda rapariga
Que hoje vi, feita mendiga
Pedindo esmola em plena rua.
Tão jovem, talvez pura...
Teve sonhos, certamente
E agora sua vida é tão nua!
O que aconteceu à sorte sua
Que à lama foi arremessada,
E sem saber, tão malfadada ?
A sua luz agora é um deserto,
A cama, o canto escuro que estiver mais perto,
O único calor que recebe, é o da lua...
Na vida não terá nada mais certo,
Senão a negra sina,
Cuja dôr não se atenua !

Lita Lisboa

domingo, 10 de outubro de 2010

Um meu poema publicado no jornal macaense (emitido em língua portuguesa) "Hoje Macau"

Este poema foi publicado no jornal diário "Hoje Macau", oriundo do território de Macau (China), na sua edição de 6 de de Outubro de 2010, nº. 2223, na sua rubrica Raio [X], página 13.
Enviei três dos meus poemas, por mail, ao jornal com esse propósito e responderam-me, pela mesma via (na véspera), que este iria ser publicado e os restantes ficavam agendados, para o mesmo efeito.
Foi um prazer enorme, até porque este jornal é onde o meu filho, Gonçalo Lobo Pinheiro, está a trabalhar e ele não tinha conhecimento desta minha acção. Só depois da informação do redactor em questão, lhe dei a informação. Facto que ele muito gostou.
Resta indicar que houve um pequeno lapso na transcrição do título (nome) do poema, que é "Viver a vida morrendo de amor", mas não faz mal. Foi um bom momento no meio das tristezas que amiúde vão surgindo.
Quer se queira, ou não, é uma internacionalização.
Fica aqui o respectivo registo.  




sábado, 9 de outubro de 2010

Canto

Canto o amor com sílabas de sol.
Deixo que o som das palavras de misture com as notas da pauta da vida e canto em conjunto com as estrelas.
Canto o brilho da saudade que ignora a razão mas aperta o meu coração e deixa livre a minha dor de te ver partir.
Deixo que os teus braços permaneçam presos á minha ilusão e canto o nosso amor para não te ver fugir.
Não amor não fujas, porque eu canto o teu rosto que sinto suave colado ao meu porque eu deixo pintar o segredo que a nossa Lua escondeu.

Canto ao Mundo este amor profundo,
Canto em silêncio este amor ao Mundo.
Deixo os teus olhos serem testemunhas da minha boca, Deixo o teu respirar ser o meu arfar. Por isso te canto, por ti suspiro, por isso te quero, por ti eu sinto, por isso te escrevo, porque te pinto, por isso aprendo, para isso sofro, por isso choro porque te observo, por isso te adoro, por isso fecho os olhos e me deixo ser só para ti.

Canto de ti para ti e sobre ti.
Canto para te fazer feliz, canto para te despertar, para te acordar, para te amar porque me fazes sonhar, canto só para te dizer que me fazes feliz.

Ana Lopes

ESTA É A MINHA 400ª. POSTAGEM NESTE BLOGUE "POESIA-AVULSA".

Dancing in the rain (Dançando à chuva)

No apelo ao movimento,
compassado com a música,
no vigor de qualquer dança.
Ou no harmonioso portento,
de tornar coisa pública
o modelar duma faiança.

Ou em gestos sensuais
coreografados a preceito,
a par da melodia escolhida.
Pelos ritmos sempre iguais,
no mais valioso jeito
de uma salsa destemida.

Na nobreza do árduo tango,
numa perícia de contornos,
e na troca de subtis olhares.
Em contraste ao luso fandango
ou à valsa de belos adornos
para diferentes festejares.

Temos o samba tão tropical
ou uma qualquer bossa nova,
dançadas ao trincar duma uva.
Melodias sem ter rival,
mesmo em canto de uma trova
ou de “slow” dançado à chuva.

Sãos os corpos em ebulição,
em concursos bem diversos
pelos quais nunca competi.
Sempre ao rubro a sensação,
no ritmo destes meus versos
ou no dançar de Gene Kelly.

Chove agora neste local,
ao compasso da natureza,
e ninguém à chuva dança.
Neste imenso Portugal…
resta-nos uma única certeza:
- Esta andança já nos cansa!...

António MR Martins

"Dança da Chuva", foto de Italo Setti, da Galeria Pública "Gentes e Locais", in http://olhares.aeiou.pt/danca_da_chuva_foto636152.html (na net) 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

No teu olhar

No teu olhar descubro-me
E desnudo-me mais
A cada novo dia,
Como se nascesse de novo
E me guiasse apenas
Pela suavidade dos gestos
Que colocas em cada carícia.

Deixo-me ir,
Abraçando apenas o futuro,
E esquecendo
As pedras pontiagudas
Que pisei, descuidada.

Envolvo-me nas palavras
E bebo dos teus lábios
Doces, mágicos,
E grito sem medos

Amo-te!

Vera Sousa Silva

in livro " Amar-te em Silêncio", edições Edium Editores 

Lealdade não é a verdade

Conheço os meandros da história
Com que ousas ludibriar meus intentos
Numa sofreguidão continuada

Conheço os pressupostos da mesma
Pelas causas mais disformes e perplexas
Mas que jamais esquecerei

Conheço as memórias lembradas
Que de num continuar consecutivo
Me assolam o recôndito lugar da mente

Sei da maneira ilusória
E dos gestos assaz violentos
Tentados no sentido de me levar à cilada

Sei dessas folhas em resma
Onde os veredictos estão em outras anexas
Contra as quais sempre me preparei

Sei das palavras exultadas
Depois escritas em papel no esquecido arquivo
Pelo seu conteúdo sobremaneira repelente

Assumindo a verticalidade
Num acto tão concludente
É fortalecer qualquer verdade
Pelo que ela tem de evidente
Discernindo-a da lealdade
De força bem convincente


António MR Martins

imagem in http://www.embuscadaverdade.blogger.com.br/ (na net) (topo de blogue)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Amigo

Guardo-te no coração
Mesmo longe, sei que estás aqui
Sabes bem tudo o que sinto
Sentes sempre tudo o que sei
Porque ambos sabemos
Que haja o que houver
Nada ou ninguém
Nos pode separar!

Ana Casanova

in livro "Dialectos da Memória", edições Temas Originais

O nascimento

Essa chama
Que é luz
Sublime

Essa luminosidade
Que traduz
Esperança

Veio
Da segurança
E da plenitude

Coerência
Proeminência
Perseverança
Bonança

Esse vigor
Manutenção
E esperança

Ser nado
Valência
Potência

O farol
Da felicidade
E da vivência


António MR Martins

terça-feira, 5 de outubro de 2010

XV

Metamorfose do Corpo
Que alucinado viaja na mente do poema
Do corpo do poema linfático
Que desagua na foz
Metamorfose do leito
Derramado, puro e casto, dos vendavais
Que expõem os dúbios caminhos da certeza
O Corpo faz-se no tempo
Enquanto o poema se confirma no gesto.

Eduardo Montepuez

in livro "Metamorfose do corpo", edições Temas Originais

A mais bela melodia

Cedo me afoitei pelo descobrir
dos sons de um canto inacabado;
onde belos timbres dão o sentir
de um resplandecer iluminado.

Notas supremas e interiorizadas
pela memória do ocultar sem fim;
no êxtase de músicas encantadas
que ofuscam qualquer estado ruim.

Se apressam os tocadores vários
em empatia com seus instrumentos
e exteriorizam a melodia prometida.

Os cantores sendo então solidários
aprumam as vozes por momentos
cantando na sua voz mais sentida.


António MR Martins

imagem in http://sotaopt.wordpress.com/2007/02/06/ (na net)

domingo, 3 de outubro de 2010

BREVE E LEVE

Desnuda-me este Desejo
Veste-me o corpo de Ti
Sacia-me a sede do Beijo
Agora, já e aqui!

Enleia-me no teu veludo
Numa Valsa de jasmim
O teu amor é o meu Tudo
Teu olhar o meu Jardim

Breve e leve é o verso
Que canta o coração
Nas entrelinhas o Universo
De Amor, Ternura e Paixão

Montijo, 3 de Outubro de 2010

Sandra Nóbrega

O tempo

Dura
Perdura

Passa
Ultrapassa

Súbito

Duradouro

Contado
Desvendado
Arquivado
Implorado

Horário
Usuário

Nasce
Morre


António MR Martins

foto in Lushprix Imagens - RF Royalty Free (na net)