segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

a minha morada


fugi de um mundo; não perdido,mas encontrado.e é por isso que não estou aqui, nem em lado algum. a minha morada é feita de palavras e ar. colunas de ar. erectas ,mas passageiras. que arrumo e desarrumo como se fossem casas de vento. eu habito o vento. procuro refúgio por onde não me perco ,sequer me encontro. por onde me voo com ele em loucuras de penas. almofadas . tecidos do sonho ou campos de algodão. tal como casas, as palavras às vezes dão-me a luz das janelas; outras, a escuridão do sossego. outras ainda, portas a bater, corredores do medo. às vezes dão-me uma cama em tudo branca. e então deixo-me ser ( amor ) . ou deito-me. no cansaço de não ser nada. depois deixo o vento .revolver.resolver . cabelos e lençóis. deixo . que me fustigue chuva nas vidraças. me bata portadas. me estremeça como luz . velas. luz e ar. eu. a vê-las. ninguém me ouve estes uivos. ninguém me ouve este vento. deixo que ele me beije certeiro e preciso. que me toque a face do nosso silêncio com dedos esquecidos de desejos ou medos. um vento preciso que me derruba, eleva ou me faz rodopiar, sem que eu nunca o explique ou queira entender. às vezes dançamos uma dança invísivel que quase parece me dói, de tão familiar. como uma casa. é. uma casa. e é neste terreno desprovido de terra que as suas paredes de vento me habitam . elas,ele,eu, o sagrado. e eu ruído ,eu tantas vezes . tempestade, eu. calada. eu ? hábito. eu - palavra. sim.eu ,palavra. eu . deixo-o estar. porque, eu, vento, habito-o.

Alexandra Cruz Mendes

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