domingo, 24 de novembro de 2013

Validades


Imagem da net, em: www.cinepop.com.br


Pelo amor estarei sempre presente
Mesmo nas ausências obrigatórias;
Assim, nada pode haver que lamente
Por entre essas fases transitórias.

Entre os valores enaltecidos…
Onde se relevam tantos carinhos,
Assentam outros teores proibidos
Que podem afugentar passarinhos.

Mas o amor não pode ter fronteiras
Nem das algemas pode ser prisioneiro
Em tantas das etapas derradeiras.

Por isso nunca poderá ser ligeiro
Nem provocador de muitas asneiras…
Jamais parcial, mas sempre inteiro.

 
António MR Martins

Teresa Teixeira




POEMA RASGADO

 
Eu queria cantar o amar…
(solta-se um vento que estremece as ondas,
namora-me o mar)

Queria cantar a força…
(solta-se um tempo que estreita as fissuras,
fascina-me a forca)

Queria cantar a paz…
(rasgo-me em verso, de lírios vestida,
sou branco fugaz)

Quero cantar a esperança!
(prende-me a rima que busca sem rumo…
… as ranhuras ásperas da cobrança…)

 
Teresa Teixeira, in “Da serena idade das coisas”, página 50, edições Temas Originais, Coimbra, 2012. 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Olhar


Imagem da net, em: www.sabe.br



Olhei-te
Na limpidez
De relance

E nesse olhar
Abarquei o universo.

 
António MR Martins

Vítor Cintra - 2




D. JOÃO I (1385 – 1433)

Casado com Filipa de Lencastre,
Tornou-se Dom João, Mestre d’ Avis,
Monarca de prestígio, como quis,
Salvando assim o reino do desastre.

Tentando impor-se à força, diz a História,
Castela, nas batalhas, foi vencida.
Deixou fugir a presa, apetecida,
Ficando-nos do rei Boa Memória.

O povo, em todo o reino, e muitos nobres,
Nascidos «os Segundos», que eram pobres,
Tal como foi Dom Nuno, “O Condestável”,

Fizeram, com arrojo e com coragem,
Surgir em Portugal nova linhagem,
Senão a mais ilustre, a mais notável.

 
Vítor Cintra, in “Dinastias”, página 27, edições Temas Originais, Coimbra, 2010.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Releve-se a Humanidade


Imagem da net.


Se engrandecem de ti simples formas
fortalecimento iluminador,
florir privilegiado sem normas
sustenta teu ser tão enriquecedor.

Apanágio por vezes irreverente
no cerne de tamanha perspicácia,
jeitos teus têm maneira saliente
onde se desenvolve tanta eficácia.

Nunca irás acotovelar ninguém
nem enformarás gestos infundados
sujeitando ao perjúrio qual alguém.

Não suportarás discursos deformados
nem filhos rejeitados por cada mãe
num mundo entre seres maltratados.

 
António MR Martins

Asun Estévez

(Galiza)



Medrar nas mans

 
Hoxe vin tras as frías pedras
agocharse cauta á liberdade.
Unha liberdade que nos observa
profanada e vendida
nunha doutrina de chuvias malditas.

Tras as pedras
políticas desorientadas,
desvergoñadas, indiferentes,
desleigadas e fendidas.
E choran as pobres putas
de meixelas rotas
acubilladas no infortunio.

E xemen os medos enriba
e detrás das pedras,
e as promesas seguen ulindo a vello.
Apoloxía de tódolos sons contidos
a través dos séculos.

Pero nas mans dos nenos
medran cada día centos de papoulas…

 
Asun Estévez, in “Medrar nas mans”, página 51, edições Ir Indo Edicións, 2013.

domingo, 17 de novembro de 2013

ainda espero


Imagem da net, em: www.doutissima.com.br


ainda espero
a dobragem do caminho
amplo e aberto
em que se fazem as visitas a tantos
campos alheios a descoberto

ainda espero a nova fórmula
do desejo prometido
onde se vertem as saudades
do último encanto adormecido
entre o duro sofrimento
de uma morte
jamais aliviada

ainda espero o iluminar
coerente e intenso
que faça desenvolver novos pretextos
inovadores num transitar repleto
de inquietação
mas virtuoso nos seus desígnios

ainda espero o que nunca alcançarei
como num sonho imaturo
desmedido
tão imaginário
na réstia da moldura visível
que se afronta ao meu olhar
a cada segundo intemporal
de um tempo incontável

sem reveses
sem contemplações
sem palavras
em silêncio

ainda espero

 
António MR Martins

Clara Maria Barata




O corpo como um rio

 
Iremos juntos meu amor
beber a claridade das manhãs
no ventre imaculado da terra

vamos cavalgar o vento
sonhar o sonho dos navios
ouvir a canção do mar
na memória dos dias puros

iremos juntos meu amor
até que das nossas bocas
irrompa a água
e rente à relva
o corpo como um rio.

 Clara Maria Barata, in “O sol disse-me que amanhã acorda cedo”, página 24, edições Temas Originais, Coimbra, 2012.

sábado, 16 de novembro de 2013

A felicidade de fazer o bem


Imagem da net, em: www.estudos.gosplemais.com.br


Deitado no seu cansaço e anónimo de ilusões,
sem desejos pendentes e outras condições.
Olhando o horizonte e as nuvens do desabafo,
esmifrou os condimentos para aquecer seu bafo.
A água já regelava o pensamento da morte
e o seu passo ligeiro, interiorizava-o como torpe…
levantou-se em desatino e olhou em seu redor,
proferiu palavras mansas que conhecia de cor.
Aprumou os seus sentidos e a ninguém pediu meças,
coçou sua cabeça reintegrando suas peças.
Acariciou a pedra próxima e a árvore subjacente
e numa alusão voraz denominou-se de inteligente,
sortilégio do desaprumo, metáfora sem solução,
abriu os braços ao mundo e a todos deu a mão.
Sentiu-se como um deus, de todos, o maior
e neste gesto fecundo… regurgitou muito amor.
Logo contabilizou: seu procedimento por tamanho,
perante a mediocridade de tanto humano tacanho.
Se nos dermos uns aos outros, numa ajuda coerente,
certamente de mesquinhos voltaremos a ser gente.

 
António MR Martins

Conceição Oliveira




DESATINOS

 
Vento do levante
Ocaso pacífico
E ofuscante…
Voraz…

Há búzios e conchas
Por todo o lado
Em turbilhão.

 A alma
Também, a minha.

 É um sentir desmedido,
Este,
Em que não atino
Com a palavra Paz.
 

Conceição Oliveira, in “Labirinto de Palavras”, página 12, edições Temas Originais, Coimbra, 2012.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Sem paralelo


Imagem da net, em: www.vibedoamor.com


Há uma lágrima voadora
que agita os condimentos
de tantos sentires,
numa indefinida interiorização
de imensa ternura.

As molduras da existência
são traços turvos sem reflexo
perante tamanha emoção.

Não sabia que sorrias,
menino doce.
Não sabia que falavas
e expressavas teus sentimentos.
Não sabia que me olhavas,
atentamente,
como se o mundo fosse esse pleno
trocar de olhares,
puro e verdadeiro.

E sorriste-te para mim,
uma e outra vez mais,
correndo lesto, em seguida,
para junto da minha pessoa.

Ladeaste-me
e colocaste-te à minha frente,
olhando-me olhos nos olhos.

Deste-me, carinhosamente, um abraço
e apertaste-me com toda a tua força.

Eu retribui-te esse abraço
e esbocei um leve beicinho,
um tremelicado movimento na face,
enquanto uma gota salgada
caía
do canto de um dos meus olhos…

Era uma lágrima de alegria!...

 
António MR Martins

Maria Antonieta Oliveira




CAMINHO

Atapetei o caminho
Com pétalas de rosas
Dependurei raminhos de violetas
Nos postes iluminados
Com luzes de cristal
Cestinhos de orquídeas
Ladeavam os canteiros
Do caminho a percorrer
Os pinheiros uniam-se
Como um baluarte de verdura
Os campos salteados de papoilas
Entre robustos girassóis.
Tudo,
era alegria, luz e cor.
Tudo,
Num sonho imaginado,
Na espera do amor!

Maria Antonieta Oliveira, in “ Galeria de Afectos”, página 34, edições Temas Originais, Coimbra, 2011.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

A vitória da felicidade


Imagem da net, em: www.girageral.blogspot.com


Há uma ave fantasia no teu olhar
aroma de rosas amarelas no sorrir,
uma ternura infinda a replicar
e a saudade imensa pelo partir.

Sobressai essa doçura vinculada
num gesto de partilha e de carinho,
relevo da criança sempre amada
que, às vezes, longe está tão pertinho.

Fragrância de um perfume feito mel
entre dúvidas e tanto desgaste…
transformando o doce no amargo fel.

Eis a sociedade em que penaste
para evocares tua visão sem ter pincel,
mas com muito amor… tu triunfaste!

 
António MR Martins

Alexandra Henriques Rosado




REESCRITO


Pediste
para rasgar
teu nome

 viraste costas

 juntei
todos
os pedaços

 e escrevi-o
de novo

 

PELA NOITE
 

A noite nasce
nas entranhas

 desce até aos dedos
ruboresce a face
arrepia os pêlos

 tudo se transforma
em pó das estrelas

 só eu espero
pelo nascer do dia
a teu lado

 
Alexandra Henriques Rosado, in “Depois do Mar”, página 6 (Reescrito) e página 26 (Pela Noite), edição de autor, Outubro de 2012

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Abraço de cristal


Imagem da net, em: www.prograd.uff.br


Poisam ventos na memória
afagos da tua história
que ninguém pode imaginar.
Carências do desencanto
lágrimas de tanto pranto
e sorrisos a enfeitar.

Gestos de incongruência
leis de tanta sapiência
e tu sempre a suportar.
Loucuras sempre propostas
devaneios e apostas
e tu sem poderes brincar.

Vais para um qualquer lado
logo ficas instalado
numa decisão de rigor.
Sentes-te tão isolado
como nunca… mal tratado
sem ter carinho e amor.

Mas alguém com outro sentir
te acolhe no teu porvir
e faz-te sentir especial.
Sentes-te forte e coeso
jamais serás indefeso
neste abraço de cristal.

António MR Martins

Susana Campos





Longe

Sinto-te longe,
Longe de mim,
Procuro o teu olhar na chuva que cai levemente,
Sinto o coração a doer,
Pela tua ausência,
Minha mão estica sem querer,
Na tentativa de te alcançar,
Meus olhos anseiam-te,
As palavras não se soltam,
A voz treme,
O sorriso tímido
Sai de mim,
Procurando o teu,
Fujo de mim,
Tentando vaguear pelos pingos destemidos,
Lindos, brilhantes, únicos.
Misturados na face,
Sinto-os a deslizar sobre mim.
Procurando conforto, sigo-os,
Até à nuvem mais alta.
Ao cume do monte, suplicando um abraço.
Onde entrego o meu eu.

Susana Campos, in “Nos teus olhos”, página 65, edições Temas Originais, Coimbra, 2012.

sábado, 9 de novembro de 2013

Pela igualdade plena





Máscara de infame sentido
Aperto mitral nefasto
Nó na garganta permitido
Pala que nos tapa os olhos
Preconceito que nos arrasta
Desde sempre o pensamento

Ego incomum irreal
Na verdade que muitos afronta
Neste fruir que não se desmonta
Nesta capacidade de intervir
Num futuro que não remonta

Um ser humano deverá ser
Aquilo que nele consiste
Igual ao seu semelhante
Com todas as diferenças naturais
Sem outros horrendos propósitos
Ou outro pensar errante

Nesta semelhança de nós
Atentemos à realidade
Olvidando nossos avós
E os seus antepassados
Abracemos a felicidade
A um mundo de plena igualdade

 
António MR Martins

Edgardo Xavier




Nos teus caminhos

 
Nos teus caminhos
sabem-me a mosto as manhãs

Rutila o sangue
como vinho
na talha do meu corpo

Bebes-me nos teus ritos
e escorro-te na boca
no ventre
no seio
ou morro no meio de nada
na paz da tua seda
rasgada

Nos teus caminhos
Sabem-me a mosto as manhãs

 
Edgardo Xavier, in “Corpo de Abrigo”, página 26, edições Temas Originais, Coimbra, 2011.   

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Pelo sabor da palavra


Imagem da net, em: www.sedeperfeitos.blogspot.com


Palavra tão escaldante
Submerso alimento
De teor dilacerante
Capaz sem conter provento

Pela voz encomendada
Ecoa na sala vazia
Entre bandeira hasteada
Sabor de refeição fria

Encontro sem cabimento
Na ilusão desmedida
Rastreio do pensamento
Cura de muita ferida

Eis o paladar precoce
Duma palavra sem sabor
Vínculo de qualquer tosse
Ofuscada sem ter valor

Mói cada sentir do imo
Segredada num momento
Com elas às vezes rimo
Mesmo sem consentimento

Trago-a também no peito
Bem juntinho ao coração
Se nela vejo defeito
Sustento-a por palavrão

António MR Martins

Mafalda Matos Dinis




A FANTÁSTICA AMIZADE

 
Aproveita os amigos
E a amizade que tens,
Esquece todos os males
E aproveita os teus bens!

Às vezes há zangas,
Mas não te preocupes com isso,
A amizade é assim,
Aceita esse compromisso…

Ajuda toda a gente
Como se fosse a tua vida.
Cuida dos teus amigos
Sempre alegre e divertida.

A fantástica amizade
Põe toda a gente unida,
Sem guerras ou ressentimentos,
Durante toda a vida.

Por isso amiguinhos
Ouçam bem o que vos digo.
Faça chuva ou faça Sol,
Ajudem sempre o vosso amigo.

Mafalda Matos Dinis, in “Mil palavras para quê?”, página 15, edições Temas Originais, Coimbra, 2010.

Nota: Este livro foi editado quando a autora tinha 9 anos.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O silêncio na voz do poema


Imagem da net, em: www.poesiaemvolta.blogspot.com


Prende-se-me a voz
Nas entrelinhas dos versos

Costumes antigos
Que teimam em não passar
Apesar do sofrimento
Das palavras esquecidas

Elas que nos elucidam do texto
Discernindo-o de sequências diversas

É carismático este devir
Onde desaguam tantas interrogações

A degustação do poema
Faz-se intervalada
Com verdadeiros significados
Em cada pausa
Mesmo que inventada

Eis o silêncio do poema
Que elevará a próxima palavra a ser declamada

 
António MR Martins

Vóny Ferreira




AS PALAVRAS FOGEM DE MIM

As palavras fogem de mim…
Numa fuga que me fere.
Já não as entendo!
Já não as procuro.
A minha exaustão
tem a dimensão
do mundo nelas escancarado
e que agora se fecha
num soluço amargo.
Desesperado…
Como se o irrealismo
que me mostram
fosse o mesmo…
ah, o mesmo…
que me pariu um dia!
As palavras fogem de mim…
Numa cavalgada que me assusta.
Despeço-me das suas carícias.
Agora…
Reencontro-as em açoites
Em todas as consoantes
Vogais e vírgulas,
sem ponto final.
Reencontro-as estéreis
nos risos que viraram lágrimas
Num despudor de amante infiel!
Agora…
Recuso-me a fazer amor com elas
Nesta entrega de amantes fugidios
Que se amam em becos floridos
Com sardinheiras encarnadas
e vasos de manjericos!   

Vóny Ferreira, in “Cascata de Sílabas”, página 66, edições Mosaico de Palavras, Junho de 2009.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Laranja amarga e doce


Imagem da net, em: www.imagensdanet.com


Há um poema reverso
Entre a palavra e o verso
E o sumo da doce laranja
Amarga pelo travo sofrido
Entre a esperança e a inquietação

Cortada em desiguais partes
Num meio de simbolismo
Onde se assumem uma esquerda
E uma outra direita
Na plenitude das contradições

Os gomos são as referências
De tantas indulgências
Sarcasmos de tantas vidas
Nas sementes da integração
Num porvir desintegrado

Um mundo partido ao meio
Sementes entre os dois lados
Todas elas similares
Em toda a sua diferença
Tal como os idênticos gomos
Díspares nos seus preceitos
Entre o seu divino suco
Amargo ou doce
Por entre cada entendimento

Laranjas
Sempre laranjas
Sempre diferentes ou quiçá iguais
No peso ou no tamanho
Nas sementes germinadoras
Ou nos gomos da sua essência

Mas sendo
Sempre laranjas

 
António MR Martins